Há pelo menos uma boa notícia, se é que se pode dizer assim, no novo relatório do IPCC (o painel científico da ONU sobre mudanças climáticas): a Amazônia não corre mais o risco de virar uma savana até o fim do século.
Essa era uma das principais previsões feitas no relatório anterior, de 2007, do IPCC. Na época, modelos climáticos apontavam que o aumento da temperatura e as mudanças climáticas levariam a uma nova configuração da vegetação em busca de um reequilíbrio com o clima diferente. Assim, em vez de permanecer como uma floresta densa chuvosa, a Amazônia responderia apresentando um menor porte, menor diversidade, menor biomassa — mais semelhança com o Cerrado.
Sete anos depois, e com mais estudos disponíveis, o cenário ficou menos pessimista. É o que se pode concluir de uma versão preliminar do relatório completo do grupo de trabalho 2 do IPCC (que fala sobre impactos, vulnerabilidade e adaptação), que vazou na internet nos últimos dias. O material será chancelado no fim da semana em sessão plenária do IPCC em Yokohama.
No capítulo que fala sobre ecossistemas terrestres — e que teve como um dos autores o americano Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, que há 30 anos estuda a floresta — o IPCC afirma que o novo conhecimento sobre a dinâmica da floresta melhorou e a probabilidade de ela sofrer essa transformação é bem menor.
O cenário anterior foi duramente criticado meses após o lançamento do relatório, em 2007. Ele tinha como base uma modelagem climática feita pelo Hadley Center, da Inglaterra, que projetava um aumento de um ciclo vicioso: o desmatamento alimentaria uma seca, que interagiria com as mudanças climáticas e o aumento da presença de gás carbônico na atmosfera, levando ao colapso de metade da floresta até o fim do século 21.O modelo, porém, nunca acertou direito o regime atual de chuvas da floresta — sempre estimava para baixo. Falava em uma média de 1.400 a 1.500 milímetros, quando a medida ficava em mais de 1.700 mm. Esse erro na modelagem acabou levando a resultados mais catastróficos.
Ameaça do fogo — Além de os modelos terem melhorado, vários estudos experimentais conduzidos na própria floresta ao longo da última década mostraram um cenário um pouco diferente. A floresta continua sendo ameaçada por períodos de seca intensa, mas seu grande inimigo talvez seja o fogo. "A melhor notícia trazida pelos últimos estudos é que, mesmo com a mudança climática, o homem pode mitigar seus efeitos ao controlar o uso do fogo na agricultura", comenta o pesquisador Britaldo Soares-Filho, da UFMG.
O fogo ainda é um recurso bastante usado por agricultores para limpar o terreno. Mas em um momento de seca ele pode se espalhar, com potencial realmente danoso para a floresta. "Sem o combate, há o risco de perder a floresta, com mudança do clima ou não. É o grande gatilho para empobrecer a floresta", diz Britaldo Soares-Filho. "Ainda é possível evitar que o fogo entre na floresta. Por outro lado, o Brasil está conseguindo reduzir o desmatamento. Se essa conquista se consolidar e evitarmos o fogo, dá para manejar o que a mudança climática tem de pior a jogar no Brasil."
Na versão liberada na internet, os cientistas reconhecem que o desmatamento na Amazônia está em queda, mas lembram que o do Cerrado continua crescendo. "A expansão da agricultura em algumas regiões, associada a um aumento da precipitação, tem afetado ecossistemas frágeis, como as fronteiras da Floresta Amazônica e dos Andes Tropicais."
Veja.com
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