domingo, 17 de janeiro de 2016

Cérebro segue cronograma diário, mostra pesquisa

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Nosso corpo tem um relógio. Ele nos desperta pela manhã e nos faz sentir sono à noite. Regula nossa temperatura corporal e a produção de insulina e outros hormônios.
O relógio circadiano do corpo chega a influenciar nossos pensamentos e sentimentos. As pessoas com depressão ou transtornos bipolares, muitas vezes, têm dificuldade em dormir à noite. Algumas pessoas com demência ficam confusas ou agressivas no fim do dia.
“Os ciclos de sono e atividade são fatores muito importantes das doenças psiquiátricas”, disse a neurocientista Huda Akil, da Universidade do Michigan.
No entanto, os neurocientistas ainda têm dificuldade em entender como o relógio circadiano afeta nossa mente. Afinal, eles não podem abrir o crânio de uma pessoa e monitorar suas células cerebrais ao longo do dia.
Alguns anos atrás, Akil e seus colegas encontraram a segunda melhor alternativa para isso.
A Universidade da Califórnia em Irvine armazena cérebros doados para pesquisas científicas. Algumas das pessoas a quem esses cérebros pertenciam morreram de manhã, outras à tarde e ainda outras à noite. Akil e seus colegas selecionaram cérebros de 55 pessoas saudáveis que tiveram morte súbita, como em um acidente de carro. Cortaram fatias de tecido de cada cérebro, das regiões importantes para a aprendizagem a memória e as emoções.
Quando cada pessoa morreu, suas células cerebrais estavam produzindo proteínas a partir de determinados genes. Pelo fato de os cérebros terem sido preservados rapidamente, os cientistas puderam medir a atividade dos genes no momento da morte. Descobriram que mais de mil genes seguem um ciclo diário. As pessoas que morreram na mesma hora do dia estavam produzindo aqueles genes nos mesmos níveis. Os padrões eram tão constantes que os genes podiam funcionar como um “carimbo horário”.
“Podíamos indagar: ‘A que hora essa pessoa morreu?’”, disse Akil. “E podíamos definir a hora da morte com grau de precisão de uma hora a mais ou a menos do horário real, registrado, de sua morte.”
Akil e seus colegas realizaram a mesma análise com os cérebros de 34 pessoas que sofreram de depressão grave antes de morrer. Descobriram que o carimbo horário estava seriamente fora de ordem. “Parecia que a pessoa estava seguindo o horário do Japão ou o horário da Alemanha”, disse a neurocientista.
Ela e seus colegas publicaram seus resultados em 2013, inspirando pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh a tentar reproduzi-los.
A neurocientista Colleen A. McClung e seus colegas examinaram 146 cérebros. Eles publicaram seus resultados no mês passado na revista científica “The Proceedings of the National Academy of Sciences”.
“Obtivemos ritmos muito claros”, disse McClung. “Parece realmente uma foto de onde o cérebro estava no momento da morte.”
McClung e seus colegas também compararam os padrões de expressão dos genes nos cérebros de pessoas jovens e idosas, encontrando diferenças interessantes. McClung descobriu que os genes ativos em ciclos diários fortes em pessoas jovens perdem força nas pessoas com mais de 60 anos.
Para a surpresa dos cientistas, porém, eles também descobriram alguns genes que ficam ativos em ciclos diários apenas na velhice. “Parece que o cérebro pode estar tentando compensar, ligando um relógio adicional”, disse McClung.
Akil especulou que a capacidade do cérebro de ativar um relógio de backup pode proteger alguns adultos mais velhos de doenças neurodegenerativas. Eventualmente, pode até ser possível ligar nossos relógios de backup para tratar uma série de transtornos relacionados ao ritmo circadiano. “Isso pode definir a diferença entre deteriorar ou não”, acredita.
Folha de S.Paulo

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