domingo, 10 de janeiro de 2016

Qual é a origem da água do canal do Panamá? Não é o que você pensa

 
 
Se recordamos a aula de geografia em que o professor explicou o tema do canal do Panamá e sua importância econômica e ecológica, quase ninguém se pergunta sobre a origem da água que há no seio do canal.
 
Uma colocação muita simplista pode levar a pensar que, como o canal une dois oceanos, o lógico deve ser que a água venha de um deles, ou de ambos. Sobre isso é preciso fazer uma consideração: por causa de diferenças de densidade da água de mar e de outros fatores oceanográficos, o nível do oceano Pacífico está 20 centímetros acima do nível do Atlântico. Além disso, as marés no Pacífico chegam a 5 e 6 metros de altura, enquanto no Caribe são de apenas 30 centímetros. Se tivessem sido unidos diretamente os dois oceanos por uma abertura estreita de 80 quilômetros de extensão – como era a ideia inicial de Ferdinand de Lesseps, que começou as obras do canal ­–, é possível que dentro do leito se gerassem intensas correntes aquáticas em diferentes direções e maremotos.
A realidade é bem distinta. O canal do Panamá tem 84 quilômetros. Podemos considerar que seu trajeto está dividido em dois setores, o oriental e o ocidental, unidos pelo lago Gatún. A água do canal do Panamá é doce, já que vem do grande reservatório que é o Gatún, um lago artificial de 435 quilômetros quadrados que armazena a água do rio Chagres e de sua bacia.
O Gatún se liga aos oceanos por dois canais: um para o Norte, desembocando no mar do Caribe, perto da cidade de Colón, e o outro vai o Sudeste, chegando ao Pacífico, perto da Cidade do Panamá. O lago fornece a água que flui por eles.
Entre a superfície do lago Gatún e a dos canais existe uma diferença de altura de 26 metros. Para superá-la, nos dois lados são necessários três conjuntos de eclusas que se enchem ou se esvaziam conforme se queira elevar ou abaixar os navios. Foram construídos dois conjuntos de eclusas em Miraflores e um em Pedro Miguel, na vertente do Pacífico, e três eclusas no lago Gatún, perto do Atlântico. Cada eclusa permite um salto ou mudança de nível de oito metros.
 
Cruzando zonas planas
O canal do Panamá foi projetado cruzando zonas de planície, situadas praticamente no nível do mar, mas em uma parte de seu percurso era preciso superar o grande obstáculo que significava a serra de Culebra, que chega a 110 metros de elevação. Isso significou ter de escavar a montanha para fazer um corte profundo em forma de vale, de 12,6 quilômetros de comprimento e 540 metros de largura na parte superior. Essa zona é conhecida como corte Culebra ou corte Gaillard. O leito dessa parte do canal ficou situado 12 metros acima do nível do mar e a superfície da água está a 26 metros de altitude.
A ideia de deixar que a superfície da água do canal ficasse no nível do mar era totalmente inviável. Por isso, optou-se por construir as eclusas, que funcionam como elevadores de navios.
Com essa solução se mantém uma barreira que impede que as águas dos dois oceanos entrem em contato e se evita o gravíssimo impacto ecológico que isso poderia significar. No entanto, sobre o lago Gatún e os bosques que rodeiam o canal pairam muitas ameaças ecológicas, como o desmatamento, a contaminação por hidrocarbonetos e a presença de espécies invasoras. Além disso, há o risco do aumento de salinidade por causa da passagem de água do mar para o interior do canal e do lago. Se isso ocorresse, afetaria todo o rico ecossistema da região e a disponibilidade de água doce das populações vizinhas, incluindo as da Cidade do Panamá e de Colón.
Além disso, é inevitável que, como ocorre em muitos outros lugares do mundo, a água do lastro dos navios contribua para o surgimento de espécies marinhas invasoras procedentes de outros pontos do planeta.
Para interpretar corretamente os mapas, é preciso levar em conta que em todo o continente americano o oceano Atlântico se encontra a Leste e o Pacífico a Oeste, exceto em uma parte do Panamá que inclui a capital. Na Cidade do Panamá, os oceanos estão situados ao contrário, ou seja, o Pacífico a Leste e o Atlântico a Oeste, o que costuma desorientar os europeus quando viajam pela primeira vez a esta cidade. Essa mudança se deve à forma de S que tem o istmo que une as Américas do Norte e do Sul.
El País.com

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