Você já deve ter ouvido alguém reclamar das dívidas e impostos dizendo que, um dia, “vão cobrar até por respirar”. O empreendedor Leo de Watts, no Reino Unido, levou essa expressão bem a sério e criou um negócio, chamado Aethaer, que vende ar puro em potes de vidros.
O empreendimento ganhou esse nome com base no termo grego “aether”, que significa ar puro e fresco, segundo a própria empresa. Ela também afirma que trabalha em uma nova indústria: a de “colheita de ar”.
A expressão explica muito bem a rotina do time de Leo de Watts: eles saem bem de manhã e vão a lugares onde há o ar que o cliente requisitou. “Alguns de nossos consumidores fazem pedidos com características bem específicas, como coletar no topo de uma montanha ou no fundo de um vale”, explica de Watts em um vídeo sobre sua rotina (veja logo abaixo).
Alguns lugares de coleta são Dorset, Somerset, Wales, Wiltshire e Yorkshire – todos no Reino Unido. Após chegarem ao local, eles “coletam” o ar com redes adaptadas, colocando-o em potes de vidro com tampas seladas (não há nenhuma explicação sobre por que usar essas redes no lugar de apenas deixar o ar entrar no pote naturalmente).
Todo esse processo é descrito de forma bem mais poética pelo empreendimento. “AETHAER é coletado com o ar fresco e natural circulando por uma série de localizações de ponta, das luxuriosas e férteis pastagens e selvagens e intocadas pradarias até picos beijados pelo vento e montanhas divinamente cobertas por neve”, diz a descrição no site da empresa.
“AETHAER é filtrado organicamente pela natureza ao fluir por córregos balbuciantes e por riachos florestais, e é amorosamente acariciado ao rolar sobre e entre formações rochosas de minérios, ao que se segue uma subida até vistas de beleza intocável, onde o AETHAER é então coletado e engarrafado”.
Depois dessa epopeia, o ar em pote é ou exportado para a China ou os empreendedores viajam ao local e vendem pessoalmente, como também mostra o vídeo – Leo de Watts hoje passa a maior parte do tempo em Hong Kong, inclusive.
A China enfrenta níveis alarmantes de poluição, o que gera um mercado consumidor para a Aethaer: a elite desse país, que compra os potes como se fossem produtos premium. Em entrevista ao The Telegraph, o empreendedor contou que a brisa britânica é como um “Louis Vuitton ou Gucci em termos de ar fresco”. Cada pote custa 80 libras esterlinas, o equivalente a 438 reais pela cotação atual. De Watts chegou a esse preço após ver um artista francês vender terra por um valor similar.
O empreendimento já havia vendido cem potes em algumas semanas de operação, completa o site britânico, que também diz que muitas pessoas compram o produto apenas como um rico presente – nesse caso o pote nunca é, de fato, aberto.
O benefício de administrar um negócio desses? “Nós temos poucas pessoas no país que saem e engarrafam o ar. Não requer muito pessoal, é possível coletar muito em uma viagem só e você não paga nada por ele.”
Críticas
Ter levado tão a sério a expressão “enquanto alguns choram, outros vendem lenços” rendeu muitas críticas à Aethaer, como era de se esperar. Porém, além das críticas de se aproveitar do ar poluído dos outros, algumas reclamações dizem respeito à procedência científica do produto.
Ao veículo Quartz, professores disseram que não há nenhum benefício direto de inalar uma garrafa de ar puro. Enquanto o pote da Aethaer possui meros 588 ml de ar, um adulto respira de sete a oito litros por minuto afirma o professor de medicina e saúde ambiental John Balmes.
Usar um pote similar ao de geleias também não é um sistema de entrega ideal, em termos de vedação. E, mesmo se fosse, o conteúdo logo se misturaria ao ar em volta assim que o pote fosse aberto. O ar deveria ao menos ser pressurizado, diz a professora Suzanne Paulson, da Universidade da Califórnia.
Por fim, a poluição se espalha pelo ar e pode chegar até aos lugares mais ermos – incluindo os poéticos locais onde a Aethaer faz sua coleta. Segundo a docente, pessoas que se preocupam com a qualidade do ar devem filtrá-lo em sua própria residência.
Exame.com
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