Graças às inscrições maias interpretadas como uma profecia de que o mundo acabaria em 2012, o Museu Regional de Antropologia Carlos Pellicer Cámara, no México, viu aumentar o número de visitantes de várias partes do planeta interessados em observar o Monumento nº 6 — o que traz os tais hieroglifos tidos como apocalípticos. A especulação rendeu até filme-catástrofe em Hollywood.
O museu fica em Villahermosa, capital do estado de Tabasco. Ali, não tem Tabasco, o famoso molho americano de mesmo nome. Tem, sim, muitas pimentas: os tabasquenhos até acham que o criador da marca passou por lá, conheceu a habanero (que, segundo a Escala de Scoville, usada para medir o grau de ardência, é 76 vezes mais picante que a jalapeño) e, assim, teve a ideia de fundar a bem-sucedida grife Tabasco). Além das especiarias, o estado guarda muitas relíquias. E o sítio arqueológico de Comalcalco, que abriga uma cidade construída pelos maias à base de tijolos cozidos e conchas de ostras, característica singular, em meio aos registros sobre esse povo, conhecido por ruínas que tornaram célebres suas construções em rocha calcária.
Outro sítio arqueológico impressionante, com construções erguidas em pedra, fica a 200 quilômetros de distância, em Palenque, no estado de Chiapas. No local, é possível andar por dentro do palácio em que viviam os nobres maias que governavam a cidade, ver onde dormia o poderoso rei Pakal (603 d.C. a 683 d.C) e matar a curiosidade conferindo o que restou de um banheiro da época. Avista-se ainda um observatório astronômico e contempla-se o campo que sediava os mortais jogos de bola, entre muitos outros detalhes notáveis daquela civilização.
Além do assombro com o mundo maia, a viagem a essa região mexicana inclui atrações como o Parque Museu de La Venta, uma área ao ar livre repleta de peças da cultura ancestral olmeca.
Eles eram astrônomos, matemáticos, arquitetos, engenheiros hidráulicos... É recitando essa descrição que os guias de turismo do sítio arqueológico de Palenque, no estado mexicano de Chiapas, vão chamando a atenção para os feitos dos maias, enquanto mostram o que restou da cidade que estava no auge há 1.400 anos e foi comandada pelo rei Pakal (603 d.C. a 683 d.C.).
Além do patrimônio que se vê no palácio onde os nobres viviam, outra imponente construção se destaca: o túmulo de Pakal, que governou por 69 anos e morreu octogenário, mas é comparado ali ao jovem faraó do Egito Tutankamon, em termos de importância arqueológica. Erguida em pedra, a edificação que serve como sepultura, em torno do sarcófago de 20 toneladas, há 14 anos não recebe visitantes em seu interior. Mas também causa impressão em quem admira o monumento e sua escadaria de 69 degraus do lado de fora.
Junto à sepultura do rei, em outra construção que serve de túmulo, foram encontrados restos mortais (vestidos com pedras preciosas, como turquesas) daquela que se acredita ser a mulher de Pakal — os exames de DNA provaram que não há parentesco de sangue entre os dois.
Do outro lado da tumba do rei, vencidos os degraus que levam ao castelo, é um deslumbre poder circular pelos cômodos e se postar junto a paredes como a que mostra figuras humanas na posição de flor de lótus, levando muitos a acreditarem que os maias praticavam meditação.
O conhecimento sobre engenharia hidráulica atribuído à civilização pré-colombiana ganha reforço no espaço que era uma espécie de toalete do palácio. O sanitário, do tipo banheiro turco, foi construído com instalação para escoamento de esgoto.
O complexo inclui, além de um observatório de astronomia, templos dedicados à ceiba, árvore sagrada dos maias, e à morte, que entre eles significava uma passagem para outra existência.
A câmara em que dormia o rei Pakal, uma das 29 que existiam no local, também pode ser observada de perto. Assim como as figuras que retratam práticas maias, como os sacrifícios humanos — além dos mortos em rituais de oferendas, era comum os vivos se cortarem e deixarem seu sangue regar a terra.
Muitos vestígios, como figuras esculpidas, remetem a jogos de bola. Outra referência maia, a atividade era mais que um esporte: era um ritual, que chega a lembrar os circos romanos, já que envolvia embates violentos e, ao fim, sacrifício de vidas.
Permitindo a observação in loco de uma herança detalhada da vida naquela época, o palácio de Palenque é um destaque no mundo maia. E estima-se que
o sítio arqueológico corresponda a apenas 5% do patrimônio arquitetônico que essa civilização deixou na região, considerando que as construções antigas foram ocupadas pela selva — a mesma mata exuberante que serviu de locação para o “O predador” (1987), com Arnold Schwarzenegger.
Acredita-se que foi o meio ambiente o fator responsável pela decadência da civilização dos maias, que teriam esgotado os recursos naturais e, assim, afetado as condições climáticas na região. O milho (e seu extenso cultivo), por exemplo, era uma importante fonte de alimento para a população, que vivia de vegetais, enquanto os governantes comiam também peixes e tartarugas, muitas vezes trazidos de longe.
Saindo de Chiapas e indo para o estado vizinho de Tabasco, outro sítio arqueológico é destaque. O lugar, Comalcalco, é revestido com tijolos cozidos e conchas de ostras, uma característica considerada especial no mundo maia, conhecido pelas construções em pedra.
Ali, na época em que a civilização maia local estava no auge e o lugar se chamava Hoi Chan, viviam, por todo o território, 18 mil pessoas. A parte mais elevada de Comalcalco fica a 37 metros de altura. Nesse ponto mais nobre, onde circulavam os integrantes da classe que governava a cidade, restam ruínas de cômodos em que havia quartos e piscinas.
17 CABEÇAS COLOSSAIS
Mais patrimônio arqueológico está abrigado no centro de Villahermosa, a capital de Tabasco. No Parque Museu de La Venta, a atração é a cultura olmeca, que teve seu apogeu entre 800 a.C. e 400 a.C. e é a primeira civilização de que se tem notícia em território mexicano (moradores locais atribuem aos olmecas a criação de bebidas com chocolate e jogos de bola).
Entre as peças em exposição, estão as famosas cabeças colossais. Uma delas é “O jovem guerreiro”, de 12 toneladas; outra leva o nome de “O velho guerreiro”, 20 toneladas; e uma terceira, a “Cabeça colossal”, é o símbolo de Tabasco e tem 24 toneladas. Com esse peso todo, é de se espantar como as peças, esculpidas entre 1200 a.C. e 800 a.C., eram transportadas: todas são feitas de rocha de origem vulcânica, e o lugar de onde foram extraídas fica a mais de cem quilômetros. Até hoje, foram encontradas 17 dessas cabeças, pesando de quatro a 50 toneladas.
Perto dali, fica o Museu Regional de Antropologia Carlos Pellicer Cámara, que reúne 300 peças das culturas olmeca (900 a.C. a 400 a.C.), zoque (650 d.C. a 900 d.C.), nahua (1000 d.C. a 1200 d.C.) e maia, além de itens de povos como zapotecos, huastecos, toltecas e teotihuacanos.
É no acervo do museu que está o Monumento nº 6, o “Tablero del tiempo”, ou a maior parte dele (uma fração menor pertence a uma coleção particular), que contém os hieroglifos interpretados como a profecia que anunciava o fim do mundo em 2012. Agora que a data já passou e o mundo não acabou, visitar o museu mexicano é um passeio, além de cheio de história, mais tranquilo.
O Globo.com
O Globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário