Especialistas afirmam que a frequência de temperaturas negativas pode mais confirmar do que afastar a hipótese das mudanças climáticas.
Difícil pensar em aquecimento global enquanto os termômetros congelam marcando mínima próxima de 0°C durante os dias quase polares que os gaúchos têm enfrentado neste inverno, certo? Não, está errado. Ainda que céticos de plantão aproveitem os períodos mais frios do ano para questionar a existência das mudanças climáticas tão alertadas por cientistas ao redor do mundo, especialistas confirmam que o aumento na ocorrência de eventos extremos é, também, consequência das alterações no clima provocadas pelo homem.
A explicação que une expressões aparentemente opostas como frio e aquecimento está nas transformações sofridas pela atmosfera nos últimos cem anos. Mesmo levando em conta que o mundo passa por períodos cíclicos de mudanças no clima - e que podemos estar no ápice de um deles - as emissões de gases de efeito estufa contribuem para o aquecimento do planeta, mexendo com o equilíbrio do ambiente.
Esse aquecimento funcionaria como um empurrão no pêndulo de equilíbrio da atmosfera. Como toda a ação gera uma reação, o empurrão do planeta para tentar estabilizar o desequilíbrio causado pela elevação da temperatura é a intensificação dos eventos extremos.
A atmosfera tenta reagir. O que se vê são invernos mais rigorosos, verões mais secos ou muito mais úmidos e ondas de calor mais intensas, até mesmo no inverno. Os extremos sempre ocorreram, e ter um extremo de chuva durante o inverno, por exemplo, não é anormal. Mas vários estudos têm mostrado que a probabilidade da sucessão de eventos extremos tem aumentado. E muito - segundo o diretor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, Tércio Ambrizzi.
Além disso, quando se fala em Rio Grande do Sul, é preciso levar em conta que o Estado está em um ponto nevrálgico das alterações no clima. Um cenário futuro de aquecimento deve fazer com que com que a trajetória dos ciclones extratropicais se mova ainda mais em direção ao sul do país. Mesmo considerando que o Estado já esteja na rota dos fenômenos, os eventos devem se tornar mais rotineiros.
No entanto, não há como afirmar se o próximo inverno terá ondas de frio tão fortes como as deste ano, ou tanta chuva como a vista nos últimos meses. A falta de equilíbrio pode atacar novamente, levando a uma estação seca e até com calor. Ou não.
- Quando se fala em extremo, ele pode ser tanto frio e chuvoso como seco e quente. É essa oscilação que temos notado em várias partes do mundo - afirma o diretor Ambrizzi.
Zero Hora - Nosso Mundo sustentável
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