sábado, 6 de outubro de 2012

A ciclovia do futuro

 
Em junho deste ano, o filme “E.T. – O Extraterrestre” completou 30 anos. Dirigido por Steven Spielberg, o longa perpetuou na memória coletiva a antológica cena das bicicletas voadoras. Quando o blockbuster estreou, o designer neozelandês Sam Martin tinha apenas dez anos. Agora, três décadas depois, ele lançou um sistema que se inspira no filme, torna mais seguro o deslocamento de ciclistas e promete transformar Londres na capital mundial das bicicletas voadoras.
 
Batizado de SkyCycle, o projeto se baseia na construção de ciclovias acopladas a vias suspensas já existentes, como viadutos e ferrovias. A ideia original apareceu na dissertação de mestrado de Oli Clark, sócio de Martin na empresa de planejamento urbano Exterior Architecture, com sede em Londres. A junção de simplicidade de conceito com beleza estética e eficiência na proposta angariou um aliado fundamental. Entusiasmado, o prefeito de Londres, Boris Johnson, chamou os dois idealizadores ao seu escritório. Na companhia do secretário de Transportes, o prefeito ouviu detalhes e decidiu organizar novas reuniões para a possível implantação do projeto. “Tenho esperança de que, em cinco anos, o SkyCycle já esteja plenamente instalado em Londres”, disse Martin.
 
 
Até lá, alguns ajustes finos têm de ser feitos. Os idealizadores e o poder público ainda estudam se é melhor fazer um tubo cercado de vidro ou de outro material mais poroso, que facilitaria a ventilação da ciclovia. A maior tachinha no caminho da ciclovia suspensa, no entanto, é a negociação com os donos dos terrenos e obras pelas quais o projeto irá passar. “Precisamos identificar quem são os diversos proprietários e convencê-los a se engajar no projeto”, diz Martin. Sem isso, os custos seriam proibitivos. Os proprietários que mais interessam são aqueles que detêm os direitos sobre as ferrovias suspensas. Comandantes de um sistema que recorta vários pontos da cidade, eles vão facilitar muito as coisas nos momentos em que, para a construção da ciclovia, seja necessária a caríssima operação de fechar uma ferrovia por um tempo.
 
Outro projeto de ciclovia que isola fisicamente ciclistas e motoristas será implantado em Doha, capital do Qatar. Ali, além de lidar com o problema do trânsito, os projetistas enfrentaram um desafio bem maior: como refrescar a ciclovia num lugar do mundo em que os termômetros podem bater na casa dos 50ºC? “Criamos um ambiente de temperatura controlada. Isso inclui a cobertura e um sistema de resfriamento que usa energia solar e águas subterrâneas”, afirma Adnan Rahman, que participou da concepção do projeto e hoje é o responsável pela filial holandesa da Cambridge Systematics – empresa que desenvolve soluções para transporte.
 
Serão cerca de 35 km de ciclovia contornando a orla de Doha e avançando pelo centro da cidade. Mais do que uma forma de integrar o sistema de transporte, o projeto é fruto de outra demanda. Ao notar que aumentava o número de casos de problemas cardiovasculares entre a população adulta e que as crianças estavam obesas, o emir Hamad bin Khalifa al Thani resolveu colocar todo mundo para pedalar. Fez duas exigências aos projetistas: conforto e segurança. Optou-se pela ciclovia fechada.
Nem sempre isolar os ciclistas em redomas inexpugnáveis é uma saída possível. “Nesses casos, é preciso trabalhar para que a bicicleta adquira o real status de meio de transporte. Ajuda se o número de ciclistas aumentar a ponto de eles se tornarem parte permanente do cenário”, diz Rahman. Mesmo em locais assim, a solução mais comum é o isolamento: “Aqui na Alemanha, onde há 57 mil quilômetros de ciclovias e muita gente de bike, é tudo segregado. Os motoristas não gostam de dividir as ruas”, diz Renata Falzoni, videorrepórter e cicloativista que percorria cidades alemãs na semana passada. Mais um indício de que, talvez, a melhor saída para a convivência entre ciclistas e motoristas seja mesmo a separação de corpos.
IstoÉ.com

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