Após grandes extinções em massa, algumas regiões do planeta costumam permanecer em um estado conhecido como "zona morta", no qual espécies antigas não conseguem sobreviver e as novas não conseguem se desenvolver. Normalmente, essas zonas mortas duram dezenas de milhares de anos. No entanto, logo após a maior extinção em massa da história da Terra, que aconteceu entre o final do período Permiano (que ocorreu entre 299 milhões e 251 milhões de anos atrás) e início do Triássico (de 251 a 199 milhões de anos atrás), o tempo de zona morta durou cinco milhões de anos. Até hoje, os cientistas não haviam sido capazes de explicar o que aconteceu nesse período do planeta, há 250 milhões de anos, que impediu a recuperação da biodiversidade. Agora, uma pesquisa publicada na edição desta semana da revista Science propõe uma explicação: a Terra estava quente demais.
Os pesquisadores já sabiam que o aquecimento do planeta havia sido uma das principais causas da extinção em massa no final do Permiano, mas agora descobriram que níveis letais de calor foram responsáveis pelos cinco milhões de anos de dificuldades que se seguiram. Durante esse período a temperatura nos continentes na região dos trópicos variava entre 50 graus Celsius e 60 graus Celsius. No mar, chegava a 40 graus Celsius. "Já sabíamos que o aquecimento global estava ligado à extinção em massa do fim do Permiano, mas esse estudo é o primeiro a mostrar que temperaturas extremas impediram a vida de recomeçar nas baixas latitudes durantes milhões de anos", disse Yadong Sun, pesquisador da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo.
Antes da grande extinção, a Terra era intensamente povoada por plantas e animais, com uma grande população de répteis e anfíbios primitivos nos continentes e uma grande variedade de criaturas no mar. Após o aquecimento, a zona morta se estendeu por toda região tropical do planeta, que se tornou uma área extremamente quente e úmida. Foi o fim das florestas. Sobraram apenas pequenos arbustos e samambaias. Nenhum animal conseguiu sobreviver em terra. Os peixes e répteis marinhos fugiram para regiões mais frias, deixando os oceanos tropicais para serem habitados apenas por animais invertebrados, como os moluscos. Nesse período, as regiões polares se tornaram o último refúgio da biodiversidade.
Forno triássico — Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram os dentes de 15.000 conodontes, peixes pré-históricos que se parecem com as enguias, encontrados no sul da China. Nesses animais, a quantidade de isótopos de oxigênio encontrada no esqueleto depende da temperatura do ambiente. Logo, por meio da análise química dos dentes os pesquisadores conseguiram prever a temperatura da Terra há milhões de anos.
Esse é o primeiro estudo a mostrar que a temperatura nos oceanos poderia chegar a letais 40 graus Celsius — uma temperatura tão elevada que a maioria dos animais morre e a fotossíntese não é mais possível. Para efeitos de comparação, hoje a temperatura média nos mares equatoriais vai de 25 a 30 graus Celsius.
"Nunca ninguém havia ousado dizer que o clima do passado havia atingido níveis tão altos. Se tivermos sorte, a atual tendência de aquecimento global não vai nos levar nem perto da temperatura de 250 milhões de anos atrás. Mas, se chegar, nós mostramos que a Terra pode demorar alguns milhões de anos para se recuperar", disse Paul Wignall, professor da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo.
Veja.com
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