A equipe de cientistas, integrada por pesquisadores da Nasa, nos Estados Unidos, e da Open University da Grã-Bretanha, começou a investigar os efeitos químicos dos terremotos após observar uma colônia de sapos que abandonou a lagoa em que vivia na cidade de L'Aquila, na Itália, dias antes de um terremoto, em abril de 2009.
Os especialistas sugerem que as mudanças no comportamento dos animais passem a ser observadas e integradas aos mecanismos de previsão de terremotos.
As conclusões dos cientistas foram publicadas na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health.
O artigo descreve um processo pelo qual rochas sob estresse na crosta terrestre liberam partículas carregadas eletricamente que reagem com a água no solo.
Animais que vivem na água ou perto dela são altamente sensíveis a mudanças na sua composição química, então é possível que eles sejam capazes de sentir essas alterações dias antes de as rochas finalmente se moverem, provocando o terremoto.
A equipe, liderada por Friedemann Freund, da Nasa, e Rachel Grant, da Open University, espera que sua hipótese inspire biólogos e geólogos a trabalhar juntos para descobrir exatamente como os animais poderiam nos ajudar a reconhecer alguns dos sinais sutis de um terremoto iminente.
Comportamento estranho
Os sapos de L'Aquila não são o primeiro exemplo de comportamento animal estranho antes de um grande abalo sísmico. Ao longo da História, houve muitos relatos de répteis, anfíbios e peixes se comportando de maneira pouco usual nesses períodos.
Em julho de 2009, horas após um grande terremoto na cidade de San Diego, na Califórnia, Estados Unidos, residentes encontraram dezenas de lulas Humboldt nas praias da região. Essas lulas são normalmente encontradas no fundo do mar, a profundidades de entre 200 a 600 metros.
Em 1975, em Haicheng, na China, muitos moradores relataram ter visto cobras saindo de suas tocas um mês antes de a cidade ser sacudida por um grande tremor.
O comportamento das cobras era particularmente estranho por ter ocorrido no inverno, período em que elas deveriam estar hibernando. Em temperaturas próximas de 0ºC, sair da toca era praticamente suicídio para répteis, que dependem de fontes externas de calor para aquecer seus corpos.
Cada um dos exemplos de comportamento animal anômalo citados é único. Terremotos de grandes magnitudes são tão raros que fica quase impossível estudar detalhadamente os eventos associados a eles.
E é nesse aspecto que o caso dos sapos de L'Aquila se diferencia.
Êxodo de sapos
A bióloga britânica Grant estava monitorando a colônia de sapos como parte de um projeto de PhD.
"Foi muito dramático", ela lembrou. "(O número de sapos) foi de 96 sapos para quase zero em três dias".
As observações de Grant foram publicadas na revista científica Journal of Zoology.
"Depois disso, fui contatada pela Nasa", ela disse à BBC.
Cientistas da agência espacial americana vinham estudando as mudanças químicas que ocorrem quando as rochas estão sob extremo estresse. Eles se perguntaram se essas alterações estariam associadas ao êxodo em massa dos sapos.
Agora, exames laboratoriais feitos pela equipe revelaram que a crosta da Terra pode afetar diretamente a composição química da água dentro do lago onde os sapos viviam e se reproduziam naquele momento.
O geofísico americano Friedemann Freund demonstrou que quando rochas estão sob níveis muito altos de estresse – provocado, por exemplo, por imensas forças tectônicas logo antes de um terremoto – elas liberam partículas carregadas eletricamente.
Essas partículas se espalham pelas rochas nas imediações, explicou Freund. E quando chegam à superfície da Terra, reagem com o ar, convertendo moléculas de ar em partículas carregadas eletricamente.
"Íons positivos presentes no ar são conhecidos na comunidade médica por provocar dores de cabeça e náusea em seres humanos e por aumentar o nível de serotonina, um hormônio associado ao estresse, no sangue de animais", disse Freund.
Essa reação química em cadeia poderia afetar matéria orgânica dissolvida na água do lago, transformando substâncias orgânicas inofensivas em materiais tóxicos para animais aquáticos.
Trata-se de um mecanismo complicado e os cientistas enfatizaram que a teoria precisa ser testada.
Grant disse, no entanto, que esta é a primeira descrição convincente de um possível mecanismo que funcionaria como um "sinal pré-terremoto" que animais aquáticos, semi-aquáticos ou que vivem em tocas seriam capazes de perceber, reagindo a ele.
"Quando você pensa em todas as coisas que estão acontecendo com essas rochas, seria estranho se os animais não fossem afetados de alguma forma", ela disse.
Freund disse que o comportamento de animais poderia ser um entre vários acontecimentos interligados que poderiam prever um terremoto.
"Quando pudermos compreender de que forma todos esses sinais estão conectados”, disse Freund, “se virmos quatro ou cinco sinais, todos apontando na (mesma) direção, poderemos dizer, ok, algo está prestes a acontecer."
BBC.com
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