"Quando morreu, em 1994, o ditador norte-coreano Kim Il-sung foi levado ao céu sobre as asas de centenas de cegonhas. Dez dias depois, as aves, impressionadas com as lágrimas dos cidadãos, devolveram o líder ao povo. Acabou sucedido por seu filho, Kim Jong-il, cujo nascimento foi saudado por dois arco-íris. Certa vez, Jong-il estava num campo nevado quando ganhou um buquê. Começou a agitar as flores até a neve derreter".
Essas histórias fictícias são narradas a todas as crianças norte-coreanas em idade escolar. E o povo as repete como verdades. No país mais fechado do mundo, os dois Kim, pai ( o grande líder, que depois de morto ganhou o título de "presidente eterno da nação") e filho ( "o líder querido"), são tratados como heróis sobre-humanos. Aos 68 anos Kim Jong-il parece novamente disposto a desestabilizar o relacionamento com os vizinhos da Coréia do Sul desde 1953 (quando os dois países interromperam uma guerra de 3 anos e criaram na fronteira uma zona desmilitarizada).
Na terra de Kim Jong-il, o metrô da capital Pyongyang, tem as estações "glória" e "paraíso". Uma estátua de bronze de 15m de altura, que homenageia seu pai, é passagem diária de peregrinos. As praças são ocupadas com treinamentos de evacuação ou crianças ensaiando danças para as festividades nacionais. Nas madrugadas, o silêncio é interrompido de hora em hora, com canções patrióticas. Enquanto isso, na falta de comida, famílias do interior cozinham cascas de árvores com argila.
A Coréia é habitada há 5 mil anos e já foi território dos maiores impérios asiáticos. Desde 1945, a península está rachada em duas. A nova onda de agressividade pode esconder uma transição. Kim Jong-il está doente e tem um sucessor: Kim Jong Un, seu filho de 26 anos.
Fome, Frio e Armas - A rotina do país é marcada pelas dificuldades:
23 milhões de habitantes (pouco mais que Minas Gerais) vivem em 120 mil km² de território (pouco menos que o Amapá)
1700 dólares é a renda per capita anual dos norte-coreanos ( 6 vezes menor que a brasileira)
1,2 milhão de militares formam o 4º maior exército do mundo
44% das crianças são subnutridas
20ºC negativos é a temperatura mínima no inverno
2 milhões morreram em uma crise de fome nos anos 90
9 milhões de pessoas estão separadas da família desde a Guerra da Coréia
3.790 Sul-coreanos foram sequestrados e levados em segredo à Coréia do Norte nos últimos 30 anos. A maioria é forçada a viver e trabalhar no vizinho do norte.
Enquanto espalha tensão pela Ásia, a Coréia do Norte sustenta um regime de adoração pelo presidente.
Fonte: Por Maria Beatriz Musnich Pedroso
Publicado na revista - Aventuras na História
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