Para o ecólogo tropical Gregory Asner, sobrevoar a Amazônia Peruana a partir da cidade de Tarapoto é como voltar no tempo. Casas modernas, plantações de arroz e de palmeiras de dendê dão lugar a íngremes montanhas florestadas e depois a florestas verdes, virgens, que se curvam na direção do horizonte.
Nesse canto remoto da região peruana de Ucayali, Asner, da Carnegie Institution for Science, na Stanford University, teme estar vendo o futuro. Nos últimos anos esse trecho de floresta foi atingido por duas enchentes do tipo “uma-a-cada-século” – uma em 2005 e outra em 2010. Esses períodos de seca podem se tornar mais frequentes conforme se elevam as temperaturas no Oceano Atlântico Norte tropical e humanos queimam milhares de quilômetros quadrados de floresta para cultivo.
Apesar de já ter tido temperaturas mais altas no passado, a Amazônia ocidental agora está sob o cerco de uma combinação de clima quente e crescimento de população humana que nunca enfrentou.
Cientistas se esforçam para determinar se as áreas protegidas existentes serão suficientes para resistir às mudanças que virão.
Asner vislumbra fumaça subindo dos incêndios iniciados para limpar terra para cultivo. A migração das highlands dos Andes colocou os estados da Amazônia peruana no topo dos gráficos de crescimento populacional, e o influxo de pessoas para a floresta.
O Ministério de Meio-Ambiente do Peru – usando imagens de satélite e softwares fornecidos pela Carnegie – calcula que o país perdeu aproximadamente 6475 quilômetros quadrados de floresta, uma área do tamanho de Delaware, entre 2005 e 2009, em relação aos 4550 quilômetros quadrados nos cinco anos anteriores.
A perda de florestas reduz a precipitação, estressando ainda mais as árvores restantes. “Cerca de 50% da chuva que cai na Amazônia é gerada pela própria floresta, por meio de transpiração e evaporação”, explica Asner. “O desmatamento exacerba o problema da seca, porque remove seu mecanismo interno de controle”.
Limpar campos e pastagens também deixa bordas de mata mais expostas, secando seu interior e tornando-as mais suscetíveis a pegar fogo se incêndios agrícolas se expandem.
De acordo com Simon Lewis, ecólogo florestal da University College London, incêndios durante as secas de 2005 e 2010 adicionaram 3,8 gigatoneladas de carbono à atmosfera. Em estudos genéticos recentes, Lewis descobriu que árvores amazônicas resistiram ao aquecimento climático, mas as mudanças foram mais lentas naquela época, e não eram impulsionadas por humanos, lembra ele.
Diante de condições mais secas e quentes, árvores têm três opções:
“Indivíduos podem se aclimatar, espécies podem se adaptar ou migrar, ou são extintas”, observa Kenneth Feeley, biólogo da Florida International University.
Uma espécie floral pode se expandir para uma região mais fria, mas apenas na velocidade permitida pela dispersão de suas sementes.
Feeley, que estuda árvores na encosta leste dos Andes peruanos, ficou surpreso ao ver mudanças na vegetação em poucos anos. “Espécies estão se movendo encosta acima cerca de três metros verticais por ano – isso é muito rápido”, aponta ele, apesar de talvez não ser rápido o suficiente. “Com base na mudança climática que já está acontecendo, elas precisam se mover nove ou 10 metros verticais por ano”.
Nas terras baixas, o desmatamento reduz as áreas para as quais as espécies podem se mover. Campos, pastos e estradas também criam barreiras à dispersão.
O Peru tem algumas grandes áreas protegidas, como o Parque Nacional Manú, onde Feeley realiza seu trabalho, mas cientistas não sabem se essas áreas são grandes o bastante – ou se estão nos lugares certos – para permitir que espécies migrem em um clima que muda rapidamente.
Os cientistas, assim como as árvores, estão correndo contra o tempo.O regime de chuvas, a geologia e a topografia da Amazônia ocidental deram origem a um mosaico de ecossistemas tão diversos que são praticamente desconhecidos. Os cientistas têm poucos dados nos quais basear seus planos de conservação, explica Asner.
Enquanto Feeley registra as mudanças no solo, Asner sobrevoa a floresta em um avião equipado com um sistema de imageamento laser e um espectrômetro super-resfriado que consegue detectar 21 compostos químicos nas folhas da copa das árvores.
Depois de uma década comparando dados de espectrometria com a química de folhas podadas de copas de árvores, Asner declara que consegue identificar “impressões digitais” químicas de espécies com 80% de precisão – o bastante para criar um mapa da diversidade de espécies de dossel na Amazônia ocidental, da Colômbia à Bolívia, que dará a cientistas uma linha de base para comparar com mudanças futuras. Ele também está medindo o carbono florestal, que ajudará no cálculo de gases estufa liberados pelo desmatamento.
Como algumas espécies prosperam e outras falham em se adaptar, as mudanças climáticas produzirão “vencedores e perdedores”, observa Asner, que apresentou suas descobertas preliminares sobre o dano das secas em 7 de dezembro, na reunião da American Geophysical Union em San Fracisco.
Ele prevê “grande mudanças na configuração básica da Amazônia”, em um período de tempo bastante curto.
Nesse canto remoto da região peruana de Ucayali, Asner, da Carnegie Institution for Science, na Stanford University, teme estar vendo o futuro. Nos últimos anos esse trecho de floresta foi atingido por duas enchentes do tipo “uma-a-cada-século” – uma em 2005 e outra em 2010. Esses períodos de seca podem se tornar mais frequentes conforme se elevam as temperaturas no Oceano Atlântico Norte tropical e humanos queimam milhares de quilômetros quadrados de floresta para cultivo.
Apesar de já ter tido temperaturas mais altas no passado, a Amazônia ocidental agora está sob o cerco de uma combinação de clima quente e crescimento de população humana que nunca enfrentou.
Cientistas se esforçam para determinar se as áreas protegidas existentes serão suficientes para resistir às mudanças que virão.
Asner vislumbra fumaça subindo dos incêndios iniciados para limpar terra para cultivo. A migração das highlands dos Andes colocou os estados da Amazônia peruana no topo dos gráficos de crescimento populacional, e o influxo de pessoas para a floresta.
O Ministério de Meio-Ambiente do Peru – usando imagens de satélite e softwares fornecidos pela Carnegie – calcula que o país perdeu aproximadamente 6475 quilômetros quadrados de floresta, uma área do tamanho de Delaware, entre 2005 e 2009, em relação aos 4550 quilômetros quadrados nos cinco anos anteriores.
A perda de florestas reduz a precipitação, estressando ainda mais as árvores restantes. “Cerca de 50% da chuva que cai na Amazônia é gerada pela própria floresta, por meio de transpiração e evaporação”, explica Asner. “O desmatamento exacerba o problema da seca, porque remove seu mecanismo interno de controle”.
Limpar campos e pastagens também deixa bordas de mata mais expostas, secando seu interior e tornando-as mais suscetíveis a pegar fogo se incêndios agrícolas se expandem.
De acordo com Simon Lewis, ecólogo florestal da University College London, incêndios durante as secas de 2005 e 2010 adicionaram 3,8 gigatoneladas de carbono à atmosfera. Em estudos genéticos recentes, Lewis descobriu que árvores amazônicas resistiram ao aquecimento climático, mas as mudanças foram mais lentas naquela época, e não eram impulsionadas por humanos, lembra ele.
Diante de condições mais secas e quentes, árvores têm três opções:
“Indivíduos podem se aclimatar, espécies podem se adaptar ou migrar, ou são extintas”, observa Kenneth Feeley, biólogo da Florida International University.
Uma espécie floral pode se expandir para uma região mais fria, mas apenas na velocidade permitida pela dispersão de suas sementes.
Feeley, que estuda árvores na encosta leste dos Andes peruanos, ficou surpreso ao ver mudanças na vegetação em poucos anos. “Espécies estão se movendo encosta acima cerca de três metros verticais por ano – isso é muito rápido”, aponta ele, apesar de talvez não ser rápido o suficiente. “Com base na mudança climática que já está acontecendo, elas precisam se mover nove ou 10 metros verticais por ano”.
Nas terras baixas, o desmatamento reduz as áreas para as quais as espécies podem se mover. Campos, pastos e estradas também criam barreiras à dispersão.
O Peru tem algumas grandes áreas protegidas, como o Parque Nacional Manú, onde Feeley realiza seu trabalho, mas cientistas não sabem se essas áreas são grandes o bastante – ou se estão nos lugares certos – para permitir que espécies migrem em um clima que muda rapidamente.
Os cientistas, assim como as árvores, estão correndo contra o tempo.O regime de chuvas, a geologia e a topografia da Amazônia ocidental deram origem a um mosaico de ecossistemas tão diversos que são praticamente desconhecidos. Os cientistas têm poucos dados nos quais basear seus planos de conservação, explica Asner.
Enquanto Feeley registra as mudanças no solo, Asner sobrevoa a floresta em um avião equipado com um sistema de imageamento laser e um espectrômetro super-resfriado que consegue detectar 21 compostos químicos nas folhas da copa das árvores.
Depois de uma década comparando dados de espectrometria com a química de folhas podadas de copas de árvores, Asner declara que consegue identificar “impressões digitais” químicas de espécies com 80% de precisão – o bastante para criar um mapa da diversidade de espécies de dossel na Amazônia ocidental, da Colômbia à Bolívia, que dará a cientistas uma linha de base para comparar com mudanças futuras. Ele também está medindo o carbono florestal, que ajudará no cálculo de gases estufa liberados pelo desmatamento.
Como algumas espécies prosperam e outras falham em se adaptar, as mudanças climáticas produzirão “vencedores e perdedores”, observa Asner, que apresentou suas descobertas preliminares sobre o dano das secas em 7 de dezembro, na reunião da American Geophysical Union em San Fracisco.
Ele prevê “grande mudanças na configuração básica da Amazônia”, em um período de tempo bastante curto.
Scientific American
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