quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Engorda, mas não é comida

Você controla com rigor sua alimentação e vai à academia quase todo dia. Mesmo assim, o ponteiro da balança resiste em baixar ou, pior, decide acusar alguns quilos a mais. Se queria uma explicação definitiva para esse dilema, talvez se sinta meio perdido com a resposta da ciência: o mundo moderno conspira das mais diversas formas para que você engorde. Há uma porção de elementos escondidos em nosso dia a dia — presentes em embalagens de alimentos, remédios e até nos tubos de PVC da rede de encanamento — que contribuem, sem que a gente se dê conta, com o ganho de peso. É o que defende Bruce Blumberg, professor de bioengenharia da Universidade da Califórnia, nos EUA, e criador do termo “obesogênicos”, que é como ele chama as substâncias com o poder de incitar o corpo a acumular gordura.
        De acordo com a teoria e os experimentos do especialista, os obesogênicos estimulam a retenção de banha por duas vias. Eles induzem os adipócitos, as células de gordura, a ficarem literalmente mais gulosos e gordos, ou desregulam regiões do cérebro que controlam nossa saciedade e preferências alimentares. Células obesas em larga escala e vontade desenfreada de comer são fenômenos que ganham forma na frente do espelho: a barriga cresce, a camiseta e a calça ficam justas...
Onde eles estariam? No teflon da panela, no já citado PVC e em alguns tipos de embalagem plástica de alimentos (como salsichas e bebidas industrializadas), por exemplo. No caso dos plásticos, o problema é que muitos deles contêm bisfenol-A, uma substância reconhecida por dar volume às células adiposas. Por seus riscos à saúde, ele foi banido em diversos países e, no Brasil, proibido no ano passado — as empresas têm até o fim deste ano para abolirem o ingrediente de vez de garrafas, mamadeiras e outros recipientes. Os obesogênicos ainda estão presentes em pesticidas usados nas plantações — por isso, sem querer, eles permanecem em vegetais que chegam às nossas mesas — e na fórmula de alguns medicamentos contra diabete e depressão.
“De 1980 para cá vivenciamos uma epidemia de obesidade. Sim, estamos comendo mais e vivemos mais sedentariamente, mas existem outros fatores coadjuvantes, como as substâncias obesogênicas, e não podemos desprezá-los”, analisa o endocrinologista Alfredo Halpern, professor da Universidade de São Paulo. Os cientistas avaliam agora qual a influência desses inimigos invisíveis na nossa propensão a engordar. Provavelmente, seu peso é menor do que o do estilo de vida em si. Até agora, e pesquisa nenhuma provou o contrário, a melhor forma de erradicar quilos extras continua sendo moderar na alimentação e praticar atividade física regularmente.
        Fique sabendo, porém, que existem outros fatores, alguns deles associados aos nossos hábitos, que prestam contas à expansão ou à redução da barriga — e nesses, felizmente, podemos mesmo meter o bedelho. Estamos falando do sono, da exposição ao sol e à poluição...
        O impacto dessas substâncias no organismo pode ser até mais sério. “Observamos, em animais expostos a determinados agentes químicos, que até mesmo células-tronco, capazes de se diferenciar em vários tecidos, acabam se transformando em adipócitos”, conta Blumberg. Com um número maior de células de gordura, é altíssima a probabilidade de o animal virar obeso. Blumberg acredita, aliás, que algo semelhante ocorra no corpo humano. Apesar de não estarmos expostos tão diretamente a esses compostos como cobaias de laboratório, uma série de produtos com os quais temos contato diariamente apresenta itens obesogênicos em sua composição.
Onde eles estariam? No teflon da panela, no já citado PVC e em alguns tipos de embalagem plástica de alimentos (como salsichas e bebidas industrializadas), por exemplo. No caso dos plásticos, o problema é que muitos deles contêm bisfenol-A, uma substância reconhecida por dar volume às células adiposas. Por seus riscos à saúde, ele foi banido em diversos países e, no Brasil, proibido no ano passado — as empresas têm até o fim deste ano para abolirem o ingrediente de vez de garrafas, mamadeiras e outros recipientes. Os obesogênicos ainda estão presentes em pesticidas usados nas plantações — por isso, sem querer, eles permanecem em vegetais que chegam às nossas mesas — e na fórmula de alguns medicamentos contra diabete e depressão.
“De 1980 para cá vivenciamos uma epidemia de obesidade. Sim, estamos comendo mais e vivemos mais sedentariamente, mas existem outros fatores coadjuvantes, como as substâncias obesogênicas, e não podemos desprezá-los”, analisa o endocrinologista Alfredo Halpern, professor da Universidade de São Paulo. Os cientistas avaliam agora qual a influência desses inimigos invisíveis na nossa propensão a engordar. Provavelmente, seu peso é menor do que o do estilo de vida em si. Até agora, e pesquisa nenhuma provou o contrário, a melhor forma de erradicar quilos extras continua sendo moderar na alimentação e praticar atividade física regularmente.
        Fique sabendo, porém, que existem outros fatores, alguns deles associados aos nossos hábitos, que prestam contas à expansão ou à redução da barriga — e nesses, felizmente, podemos mesmo meter o bedelho. Estamos falando do sono, da exposição ao sol e à poluição... GALILEU foi apurar de que forma e até que ponto eles também repercutem no número da balança.
 
PRIVAÇÃO DE SONO
 
Aquele conselho que a gente ouve na infância tem sua validade científica. Um estudo da Faculdade de Enfermagem de Harvard analisou 60 mil mulheres durante 16 anos. No início da avaliação, nenhuma se encontrava acima do peso. Terminada a pesquisa, concluiu-se que quem dormia menos de 7 horas por noite engordou 30% a mais do que as voluntárias que repousaram por mais tempo. “Privar-se de sono altera o funcionamento do hormônio regulador do apetite, a leptina, o que nos faz ter mais fome”, justifica a endocrinologista Claudia Chang, do Instituto Superior de Medicina, em São Paulo. Além disso, pessoas que fogem do travesseiro ficam cansadas e têm menos vontade de se movimentar e queimar calorias. O estudo americano ainda revelou que não dormir o suficiente altera nosso padrão alimentar logo no dia seguinte. Quem deixa de descansar tende a escolher comidas mais gordurosas e ingere, em média, 30% a mais de calorias. Sem falar que as madrugadas em claro inspiram ataques à geladeira. Não é preciso banir uma noitada no final de semana. O problema é tornar a privação de sono parte da rotina.
 
FLORA INTESTINAL
As espécies e a concentração de microorganismos da flora intestinal influenciam nossa propensão a entrar no time dos gordinhos. O motivo ainda não está claro, mas é fato que magros e obesos têm floras distintas — os cientistas já notaram diferenças até entre suas fezes. “Algumas bactérias encontradas no intestino de obesos são capazes de transformar mais produtos da nossa digestão em energia”, diz o biomédico Bruno de Melo Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas. O problema é que esses substratos liberados pelos micro-organismos podem acabar convertidos em gordura. Aliás, está na flora uma das explicações para o fato de crianças nascidas de cesariana enfrentarem um maior risco de se tornarem obesas se comparadas às que vêm ao mundo por parto normal. Ao passar pela vagina da mãe, o bebê entra em contato com mais bactérias, que colonizam o intestino do recém-nascido e estabelecem uma flora em ordem e menos glutona.

VÍRUS
 

 

 O adenovírus Adv 36 é conhecido por provocar resfriados e infecções oculares em seres humanos. Mas uma investigação do Centro de Pesquisa Biomédica de Pennington, nos Estados Unidos, o apontou como um possível causador de aumento de peso. “Os cientistas encontraram maiores níveis de anticorpos associados a esse vírus em obesos”, explica Alfredo Halpern. Isso sugere que eles contraíram o Adv 36 e, como efeito colateral, seu corpo passou a estocar mais gordura — algo já comprovado em galinhas e macacos. Ainda não se sabe, porém, o impacto da “infectobesidade” em humanos. Diante da dúvida, fique longe de quem está espirrando.

 
POLUIÇÃO
 
Você vive em uma cidade grande? Se a resposta é “sim”, lamentamos: suas chances de passar para o tamanho GG também são maiores. É o que aponta uma pesquisa divulgada pelo Hospital Universitário de Glostrup, na Dinamarca, depois de monitorar por 22 anos mais de mil cidadãos. Os médicos dinamarqueses acusam certos poluentes e níveis mais altos de dióxido de carbono (CO2) de desregularem os mecanismos de acúmulo de gordura e controle do apetite. Eles descobriram que tanto magros como gordinhos estavam ganhando um pouco de peso e isso estava relacionado com o expressivo aumento na concentração de CO2 na atmosfera. Esse gás teria a capacidade de atrapalhar, lá no cérebro, a ação da orexina, um hormônio que ajuda a regular a saciedade e o gasto de energia. A mesma equipe de pesquisadores expôs, em outro experimento recente, 3 voluntários a quantidades crescentes de CO2 — chegando a 350 partes por milhão, o limite do que seria suportável — e outros 3 a um ar mais limpo. Depois de 7 horas, todo mundo foi autorizado a matar a fome. E não é que os indivíduos com maior concentração de gás carbônico no sangue comeram 6% a mais do que o restante!
 
PARTO E AMAMENTAÇÃO
Quando uma criança nasce abaixo do peso ideal, seu organismo franzino precisa se esforçar para se desenvolver direito. Nesse processo, ele entende que deve armazenar muita energia a fim de sobreviver. O corpo do bebê pequeno — que muitas vezes é prematuro — passa a estocar uma maior quantidade de calorias fornecidas pelo leite materno ou por outras fontes e não há melhor jeito de guardar essa energia toda do que na forma de gordura. É uma ironia: a criança que nasce magrinha tem, sobretudo na infância e adolescência, uma maior probabilidade de ficar gorda. Haveria uma estratégia para minimizar esse risco. A amamentação parece exercer, segundo novos estudos, um efeito antiobesidade para o recém-nascido. O leite humano possui substâncias que regulam o metabolismo e o apetite do bebê, algo essencial para que ele aprenda, desde os primeiros meses de vida, a ficar saciado sem exageros.
 
FALTA DE SOL
Nos últimos anos, estudos provaram que pessoas obesas apresentam menores níveis de vitamina D — substância fabricada quando a gente fica sob o sol — do que aquelas em paz com a balança. “Ainda não sabemos se isso é apenas uma associação fortuita ou realmente uma relação de causa e efeito”, analisa a endocrinologista Claudia Chang. Segundo a médica, a vitamina D é facilmente dissolvida em gordura. Se o corpo tem reservas gordurosas demais, a concentração da substância despenca, o que justificaria sua deficiência entre os gorduchos. Investigada por participar de diversos processos fisiológicos e proteger o organismo de osteoporose e doenças cardiovasculares, a vitamina D ainda parece potencializar a ação da insulina, o hormônio que permite às nossas células recarregar sua cota de energia. “Se o corpo não tem níveis suficientes dessa vitamina, se sente forçado a produzir mais insulina e essa sobrecarga resulta em ganho de peso”, diz Claudia. Tomar banhos de sol diários de cerca de 15 minutos tende a suprir a demanda — além do bronzeado, o peso agradece.
 
CLIMATIZAÇÃO
 
 
 O ar-condicionado está no carro, no trem, no escritório... e, apesar do refresco em dias quentes, pode ajudar a encher os pneus na cintura. É que, em um ambiente sem climatização, o corpo precisa regular sozinho sua temperatura interna e, assim, queima gordura.
Quando o clima fica agradável o tempo todo, o organismo não se estressa e deixa de torrar calorias. Segundo o médico Alfredo Halpern, da USP, o gasto é ainda maior quando está frio e o corpo precisa se esquentar. Por isso, se pretende perder peso no inverno, desligue o aquecedor

Galileu.com

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