Hoje, há centenas de milhares de partículas de lixo espacial na órbita da Terra. Se ninguém se encarregar da limpeza, a corrida espacial estará ameaçada.
Olhando para o céu noturno, os anéis da Terra nunca foram tão bonitos. Diferentemente das faixas de poeira de Saturno, no entanto, o halo da Terra foi feito por nós mesmos. Não passa de um cordão formado por lixo espacial, destroços amassados de milhares de satélites que já serviram para monitorar o clima, transmitir programas de TV e ajudar pessoas a se localizarem. E, se não forem varridos dali, podem ser um obstáculo para a nova corrida espacial que se desenha: neste ano, o governo americano anunciou o objetivo de chegar em Marte até 2030 e algumas empresas privadas já estão testando aviões para circular pela órbita terrestre.
Com o aumento do trânsito espacial, essa sujeira sideral vem preocupando cientistas e engenheiros envolvidos com a corrida rumo a novos planetas. Há alguns anos, operadores recebiam por mês 1 ou 2 alertas desse tipo de problema. Agora, chega a acontecer 2 a 3 vezes por semana. Cada vez que a luz vermelha acende, dá-se início a uma jornada de 72 horas de rastreamento com o uso de radar para refinar a órbita do objeto e estabelecer se há possibilidade de colisão com algum satélite: "Se atingido por um objeto de um centímetro de velocidade orbital é o equivalente a explodir uma granada de mão", segundo cientistas da Agência Espacial Europeia em Darmstadt, na Alemanha.
A preocupação atual ganhou corpo em fevereiro de 2009, quando a estrutura russa Kosmos-2251 e o satélite de comunicações Iridium 33 colidiram à velocidade de 42,1 km/h. O impacto estraçalhou um dos painéis do Iridium 33 e fez com que ele começasse a girar de maneira irrefreável. A Kosmos-2251 foi destruída. De acordo com a Space Surveillance Network (SSN, ou Rede de Vigilância Espacial), unidade militar dos EUA, as órbitas dos dois agora têm nuvens de destroços formada por mais de 2 mil fragmentos maiores que 10 cm, sem contar os que não podem ser analisados da Terra.
Esses montes de lixo espacial errando pelo cosmos ganharam o nome de Síndrome de Kessler, em homenagem ao ex-engenheiro da Nasa, Donald Kessler. Em 1978, ele elaborou a teoria de que a nuvem de estilhaços geraria uma reação em cadeia e as órbitas ficariam tão congestionadas que, com o tempo, nosso acesso ao espaço ficaria bloqueado. Hoje, segundo levantamento feito pela SSN, há 12 mil objetos na órbita da Terra maiores que uma caneca de café, sendo que cerca de três quartos deles correspondem a lixo espacial.
Resolver o problema envolve algumas providência simples como assegurar que as coberturas de proteção dos foguetes fiquem presas às naves, em vez de serem descartadas no espaço. Mas é necessário que os responsáveis pelos satélites cumpram diretrizes internacionais elaborados pelo Comitê de Coordenação de Destroços Espaciais Inter-Agências. Eles exigem, por exemplo, que naves que circulam na órbita da Terra devem retornar à atmosfera e se incendiar no prazo de 25 anos depois da missão. Ao final de seu uso, satélites de comunicação deveriam ser impulsionados para uma órbita-cemitério 300km acima de onde costumam ser descartados. Mas é muito comum deixar naves por aí. Em 2008 doze satélites pararam de funcionar e só sete deles foram mandados para longe.
O professor de engenharia da Universidade Southampton, na Inglaterra, Hugh Lewis, vem se dedicando a estudar abordagens para identificar e dar cabo ao lixo espacial mais perigoso. Novas tecnologias poderiam ser usadas para eliminar os tais satélites mortos. Um satélite especializado, por exemplo, poderia disparar um raio laser na estrutura do satélite inoperante o que faria os componentes derreterem com a expulsão de gás, e serviria para impulsionar o dejeto para fora do caminho de uma colisão.
A unanimidade entre cientistas e engenheiros envolvidos nos projetos espaciais é com a necessidade imediata de se fazer alguma coisa com o lixo cósmico pois a capacidade futura de usar o espaço está diretamente ameaçada pelos destroços lá espalhados.
Fonte: Galileu.com
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