Mais de 100 anos depois da morte do guerreiro, seus descendentes retomam a lenda do último líder indígena a se render aos colonizadores americanos, e a cultura apache renasce nos EUA em pleno século XXI
Geronimo, o nome pelo qual é conhecido um dos mais famosos índios americanos, nasceu em 1829, no atual estado do Novo México, nos EUA. Ele pertence ao povo apache. Ao nascer, recebeu o nome de Gokhla-Yeh ("aquele que boceja").
O nome "Geronimo" foi adotado muitos anos depois. Segundo a lenda, no dia 30 de setembro de 1858, dia de São Jerônimo, durante uma incursão militar de represálias contra os soldados mexicanos que haviam massacrado toda sua família - mãe, esposa e três filhos - ele teria ouvido os gritos do inimigo invocando o santo dos dia: "Jerônimo"!, em espanhol. O nome o teria marcado, e ele decidiu adotá-lo dali em diante - grafando-o com "G", Geronimo. Guerreiro astuto e líder carismático, também era um Xamã, curandeiro respeitado por sua tribo.
Geronimo foi um dos últimos a abandonar as armas, depois de ter enfrentado metade da cavalaria dos EUA e fugido três vezes da reserva onde fora assentado com seus companheiros. Rendeu-se definitivamente em 1886 e faleceu em 1909, aos 90 anos, em Fort Sill (Oklahoma), onde estava preso.
Aos 100 anos de sua morte, seu bisneto, Harlyn Geronimo, iniciou uma busca de seus rastros para celebrar e transmitir a memória dos apaches. "Nossa história é a de um povo que sempre lutou para preservar seu modo de vida, suas tradições e proteger sus terra ancestral. Os apaches nunca foram submissos. Nós ainda estamos aqui, e aqui continuaremos por muito tempo", diz ele.
Corine Sombrun, jornalista e escritora, iniciada no xamanismo na Amazônia e nas estepes da Mongólia, foi ao Novo México, em 2005, para encontrar Harlyn Geronimo. Juntos fizeram uma longa peregrinação até a nascente do rio Gila, onde o chefe indígena nasceu. Durante muitos meses, trocaram conhecimentos sobre as tradições apaches e acharam que já era hora de transmitir essa memória às futuras gerações e celebrar a vida do grande guerreiro apache.
Desse desejo, surgiu o livro Sur les pas de Geronimo (seguindo os passos de Geronimo, inédito no Brasil), escrito a quatro mãos, no qual o retrato do guerreiro, traçado por seu bisneto, se mistura a uma narrativa íntima sobre o povo apache e desvenda as táticas de resistência adotadas por seus ancestrais.
Em 2010, Harlyn foi o convidado de honra da Feira de Caen, na França, que tinha como tema "Mitos e lendas dos índios da América do Norte", e do Festival América, realizado anualmente em Vincennes, onde ocorreu um encontro literário com escritores norte-americanos.
"Meu bisavô foi perseguido e em seguida capturado e detido como prisioneiro de guerra. Ele lutou para defender a terra dos apaches. Já o meu pai lutou ao lado dos soldados americanos durante a Segunda Guerra Mundial e participou do desembarque dos Aliados na praia de Omaha - Normandia". Durante sua passagem pela região, Harlyn foi convidado a inaugurar um monumento em memória dos soldados indígenas que participaram do Dia "D", em 11 de junho de 1944.
Em 2005, Steven Spielberg produziu uma série de televisão de seis episódios chamada Into the West, onde aparece sua história. Também foram feitos vários documentários no qual ele interpretou o bisavô.
Ser o herdeiro espiritual do grande chefe apache representa muitas responsabilidades para Harlyn:" Para mim, é um engajamento muito forte no que diz respeito aos direitos do povo apache". Ele viaja bastante e se encontra com muitos líderes políticos. Além disso, faz parte do conselho tribal e defende arduamente a causa indígena. Também está engajado nas grandes questões ecológicas, militando pela defesa da floresta amazônica e a proteção dos animais em risco de extinção.
Além dos inúmeros enfrentamentos ocorridos entre os povos ameríndios e os primeiros colonos europeus, desde o final do século XVII, os Estados Unidos combateram durante mais de um século diferentes tribos indígenas, conforme iam expandindo suas conquistas pelo território. Entre elas: os Navajos, Sioux, Cheyennes, Cherokees, além dos Apaches.
As guerras apaches começaram em 1847, para defesa de suas terras, durante o conflito que opôs o México aos EUA, e terminaram oficialmente com a rendição de Geronimo, em 1886, apesar de ter havido ataques e conflitos posteriores.
Fonte: História Viva
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