Cientistas que calculam as perdas afirmam que isso é parte de uma mudança
fundamental.
Além disso, o gelo marinho geralmente atinge seu ponto mais baixo em
setembro, então acredita-se que o derretimento deste ano vá continuar.
Segundo a Nasa, a extensão de gelo marinho caiu de 4,17 milhões de km² em 18
de setembro de 2007 para 4,10 milhões de km² em 26 de agosto de 2012.
A cobertura de gelo marinho aumenta durante o frio dos invernos no Ártico e
encolhe quando as temperaturas voltam a subir. Mas, nas últimas três décadas,
satélites observaram um declínio de 13% por década no período de verão.
A espessura do gelo marinho também vem diminuindo. Sendo assim, no total o
volume de gelo caiu muito – apesar de as estimativas sobre os números reais
variarem.
Joey Comiso, o principal pesquisador no Goddard Space Flight Center da Nasa,
disse que o recuo deste ano foi causado pelo fato do calor de anos anteriores
ter reduzido o gelo perene – que é mais resistente ao derretimento.
"Diferentemente de 2007, as temperaturas altas no Ártico neste verão não
foram fora do comum. Mas nós estamos perdendo o componente espesso da cobertura
de gelo", disse Comiso.
"Assim, o gelo no verão fica muito vulnerável."
'Morte inevitável'
Segundo Walt Meier, do National Snow and Ice Data Center, que colabora nas
medições da cobertura de gelo, "no contexto do que aconteceu nos últimos anos e
ao longo dos registros de satélite, isso é um indicativo de que a cobertura de
gelo marinho do Ártico está mudando fundamentalmente".
O professor Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge, disse que
"diversos cientistas que trabalham com medição de gelo marinho previram alguns
anos atrás que o recuo iria se acelerar e que o verão Ártico se tornaria livre
de gelo em 2015 ou 2016".
A previsão, na época considerada alarmista, agora está se tornando realidade,
diz ele. E o gelo ficou tão fino que irá inevitavelmente desaparecer.
"Medições de submarinos mostraram que (a região) perdeu pelo menos 40% de sua
espessura desde os anos 1980. Isso significa uma inevitável morte para a
cobertura de gelo, porque o recuo de verão é agora acelerado pelo fato de que
enormes áreas de água aberta permitem que tempestades gerem grandes ondas, as
quais quebram o gelo restante e aceleram seu derretimento", afirmou.
"As implicações são graves: a maior área de água aberta reduz o albedo médio
(refletividade) do planeta, acelerando o aquecimento global; e nós também
estamos vendo a água aberta causar derretimento do permafrost (solo composto por
terra, gelo e rochas congelados), liberando grandes quantidades de metano, um
poderoso gás causador do efeito estufa", disse.
Ameaças e oportunidades
As opiniões variam sobre a data da morte do gelo marinho de verão, mas as
notícias mais recentes causam pessimismo.
Um recente estudo da Universidade de Reading, na Grã-Bretanha, usou técnicas
estatísticas e computadores para estimar que entre 5% e 30% da perda recente de
gelo se deve à Oscilação Multidecadal do Atlântico – um ciclo natural do clima
que se repete a cada 65 a 80 anos. Está em uma fase quente desde meados dos anos
1970.
Mas o restante do aquecimento, estima o estudo, é causado pela atividade
humana – poluição e desmatamento de florestas.
Se o gelo continuar a desaparecer no verão, haverá oportunidades, assim como
ameaças.
Alguns navios já estão economizando tempo ao navegar por uma rota antes
intransitável ao norte da Rússia.
Companhias de petróleo, gás e mineração estão brigando para explorar o Ártico
– apesar de sofrerem forte oposição de ambientalistas. O Greenpeace tem
protestado contra exploração pela gigante russa Gazprom.
Entre as muitas ameaças, o aquecimento é ruim para a vida selvagem do Ártico.
Graças à influência do gelo marinho nas correntes de jato, as mudanças podem
afetar o clima na Grã-Bretanha.
As mudanças – caso ocorram – poderiam abrir depósitos congelados de metano
que iriam aquecer ainda mais o planeta.
Oceanos mais quentes podem levar a um maior derretimento da cobertura de gelo
da Groenlândia, o que contribuiria para a elevação do nível do mar e para
mudanças na salinidade do mar, que por sua vez poderiam alterar as correntes
oceânicas que ajudam a controlar nosso clima.
BBC.com
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