Abóbora contra a diabetes, pitanga roxa para combater o câncer, alface enriquecida com ácido fólico e alho para reduzir o colesterol. Isso sem contar a melancia, que começa a ser estudada, pois há evidências de que tem substâncias úteis contra a hipertensão arterial. Toda esta safra de novos alimentos está em desenvolvimento em diversos segmentos da Embrapa e pode chegar à mesa do consumidor nos próximos anos. Ao natural ou em cápsulas.
— Depois de confirmar que a abóbora gila, produzida no Sul do país (e com gosto de melancia), contém substâncias que reduzem o açúcar no sangue, quantificamos as sulfonilureias (compostos que promovem a liberação de insulina e são utilizados em medicamentos para diabetes tipo 2) e produzimos uma barra de cereal, mas as substâncias se perderam. Fizemos então comprimidos com a mesma dosagem usada em medicamentos alopáticos — explica o pesquisador Celso Moretti, chefe-geral da Embrapa Hortaliças, cujo estudo contou com a parceria de alunos de Farmácia e Nutrição da UnB e financiamento do CNPq.
Os remédios contra a diabetes que estão no mercado têm exatamente a mesma molécula encontrada na abóbora, a glibenclamida, que quando ingerida, estimula o pâncreas a secretar insulina no organismo. Por ser natural, a cápsula de abóbora passou por um comitê de ética da UnB e, há uma semana, teve início um ensaio-piloto com 24 pessoas, entre saudáveis e pré-diabéticas, que serão divididas em dois grupos: um vai tomar o placebo, o outro as cápsulas de abóbora durante quatro meses. Até novembro, um segundo ensaio será feito com 80 pessoas. Se tudo der certo, o fitoterápico será patenteado, negociado com um laboratório e lançado no mercado.— Isto nunca aconteceu com medicamentos, é um desafio grande e temos que trabalhar com rigor científico para assegurar a qualidade. Os médicos envolvidos calculam que a dosagem dos seis comprimidos diários de abóbora chega a 15mg da substância, enquanto que a necessidade diária para diabéticos fica entre 4mg e 23 mg diários. Resta saber como a glicose do grupo testado se comportará nesses quatro meses — diz Moretti.
Depois da abóbora gila, ele começa a testar os hipotensivos de duas qualidades de melancia, a de mesa e a forrageira, usada para alimentação de animais. E aí começa uma nova pesquisa para tentar combater a hipertensão arterial.
Alface com 15 vezes mais ácido fólico
Outra aposta, dessa vez da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, está no cultivo de uma alface crespa transgênica, que recebeu dois genes de uma planta-modelo (a Arabidopsis thaliana, primeira a ter o genoma completamente sequenciado) e, com isso, ficou enriquecida com 15 vezes mais ácido fólico, quantidade de vitamina equivalente à do espinafre europeu, que tem o maior teor já visto e é encontrado no Sul do Brasil — o mais comumente consumido por aqui é o da Nova Zelândia. O melhor é que apenas 20g da folha (duas alfaces pequenas) já têm 70% das 400 mcg diárias recomendada para adultos (grávidas têm recomendação de 600mcg a 800 mcg), sem alteração de aspecto ou sabor.
— As propriedades não se perdem depois que a alface é colhida e já observamos que, no mercado, sob luz florescente, podem até aumentar — comemora o pesquisador Francisco Aragão, responsável pelo laboratório de transferência de genes da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Dieta feminina inspirou pesquisa
A pesquisa começou sob a inspiração da preocupação das mulheres com a balança. Desde 1994, há uma lei no Brasil que obriga a suplementação de farinha com ácido fólico, mas boa parte da vitamina é perdida no preparo de pães e bolos e muitas mulheres não comem esses produtos com medo de engordar. Com a alface é o oposto: a folha quase não tem calorias e é a mais consumida de toda as hortaliças no país.
— Já fizemos ensaios preliminares com coelhos e o ácido fólico no sangue dobrou em uma semana, voltando ao normal com o fim da suplementação. A partir de agora a planta passa por comitês de biossegurança para depois ser cultivada e melhorada. Nossa expectativa é dobrar esse teor nas folhas — acredita Aragão.
A força natural das pitangas
Em Pelotas, no Sul do Brasil, a Embrapa Clima Temperado desenvolve desde 2006 um projeto que usa pitangas roxa, vermelha e laranja no combate às células de câncer. Tudo começou com a visita do médico americano Michael Wargovich, que não conhecia a fruta rica em antocianinas, carotenoides e fenóis (que funcionam como anti-inflamatório nas células) e passou a estudá-la em parceria com a Faculdade de Farmácia e Bioquímica da UFRS e a Universidade da Carolina do Sul, nos EUA, onde ele conduz a parte avançada da pesquisa. No Brasil, são feitos os extratos das plantas, que depois são enviados para os EUA.
— Na pesquisa em laboratório os extratos reduziram as células cancerígenas, mas os resultados posteriores foram confusos e, por isso, os testes estão sendo repetidos — conta a pesquisadora Márcia Vizzoto, do setor de fruticultura, que também desenvolve projetos com amora e mirtilo.
A ideia é que os extratos de frutas vermelhas reduzam tumores em ratos geneticamente modificados para desenvolver formas humanas de tumores.
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