sábado, 2 de abril de 2016

A ciência explica o que constitui "seu tipo" ideal

 (Foto: Willian Santiago)
 
OLHA QUE BONITO!
Em canções da MPB, mesas de bar ou círculos acadêmicos, a discussão sobre aquilo que é belo continua como um tema persistente e polêmico. O escritor Nelson Rodrigues, por exemplo, afirmava que a beleza era algo secundário, irrelevante até. “Ser bonita não interessa. Seja interessante!”, declarou. E, de acordo com um recente estudo publicado na revista Current Biology, aqueles ditos populares como “a beleza está nos olhos de quem vê” ou frases de caminhão do tipo “quem ama o feio, bonito lhe parece” têm, de fato, um fundo de verdade. Na primeira fase da pesquisa, realizada pelo Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, os cientistas criaram um teste online no site Test My Brain e pediram aos voluntários — ao todo, foram mais de 35 mil — que dessem notas de 1 a 7 para 200 rostos, em uma escala que ia de pouco a muito atraente. “Essa primeira fase ajudou a reforçar a tese de que as preferências físicas de uma pessoa são relativamente previsíveis”, explica o psicólogo Jeremy Wilmer, um dos autores do estudo e professor adjunto de Psicologia do Wellesley College (EUA). “Se pedirmos a dois indivíduos que nunca se viram para avaliar os rostos que consideram os mais atraentes, eles tenderão a concordar em 50% dos casos.”
NOS OLHOS DE QUEM VÊ: De  acordo com estudo, as preferências estéticas não estão baseadas em fatores genéticos ou laços familiares

Na segunda fase da pesquisa, no entanto, Wilmer e sua equipe pediram a 761 pares de gêmeos — 547 idênticos e 214 não idênticos — que fizessem o mesmo teste sobre a atração dos rostos. O objetivo era estimar a contribuição dos genes e, em seguida, compará-la com as preferências pessoais de cada um. O resultado surpreendeu os cientistas, já que as avaliações estéticas eram diferentes para cada gêmeo, enquanto estudos anteriores mostravam que os genes tinham grande influência em testes de reconhecimento facial. “As preferências de um indivíduo não estão baseadas em fatores genéticos ou em laços familiares, e sim em experiências pessoais”, afirma a psicóloga Laura Germine, coautora do estudo. Como experiências pessoais os cientistas consideram desde rostos que marcaram nossa infância, como o da(o) primeira(o) namorada(o), até os de artistas famosos, que vemos todos os dias na mídia. Quanto mais familiar um rosto — explicam —, maior a chance de ele ser considerado bonito. Por exemplo: se sua atriz favorita é Angelina Jolie, então é provável que sua noção de beleza recaia sobre um rosto com lábios grossos. Caso seja Brad Pitt, é provável que você escolha alguém com olhos mais claros. “Por essa razão, até mesmo gêmeos idênticos, que compartilham todos os genes e cresceram em um mesmo ambiente, possuem opiniões divergentes quando o assunto é beleza”, diz Wilmer.
Mas o estudo coordenado por Jeremy Wilmer e Laura Germine também deixou algumas perguntas sem respostas. Uma delas é: quais os aspectos faciais que têm mais impacto sobre as preferências estéticas de cada indivíduo? Será a cor dos olhos, o tamanho da boca, o tipo de cabelo? Para o psicólogo Holger Wiese, da Universidade de Jena, na Alemanha, rostos simétricos e com traços medianos tendem a ser considerados mais atraentes do que aqueles que apresentam características muito acentuadas, como nariz avantajado e testa larga. Já o psicólogo David Perrett, da Universidade de Saint Andrew, na Escócia, sustenta que características faciais exageradas, como lábios grossos e olhos grandes, contribuem para um indivíduo ser considerado belo. Mas e os fatores subjetivos, como charme, elegância ou simpatia? Na opinião do psicólogo Benedict Jones, da Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, o estado de humor influencia, e muito. Em estudo publicado na revista Proceedings of the Royal Society, em 2006, Jones revelou que fotos de homens sorridentes em geral são vistas como mais atraentes do que as de indivíduos com o semblante emburrado.
E o que é tido como um padrão cultural de beleza nem sempre corresponde à realidade, claro. Tendências machistas à parte, pesquisadores da Universidade de Austin, nos Estados Unidos, elegeram a dona do corpo mais bonito do mundo a partir de uma análise matemática. A “felizarda” não é a brasileira Gisele Bündchen, a australiana Miranda Kerr ou a holandesa Doutzen Kroes, três das modelos mais bem pagas do planeta, segundo estudo divulgado pelo periódico norte-americano Forbes. Com 1,68 metro de altura e 73 quilos, a eleita é a britânica Kelly Brook, 36 anos. Por quê? Ao contrário das capas de revistas de moda, as proporções de Kelly são vistas como ideais: não que números importem muito nesses casos, mas, pelo cálculo dos cientistas, o corpo perfeito é aquele cujo resultado da divisão da medida da cintura pela do quadril é igual a 0,7. No caso de Kelly, que tem 99 centímetros de busto, 63 de cintura e 90 de quadril, a conta dá exatos 0,7. Por isso, pense duas vezes antes de ficar chateada(o) com os padrões de beleza exaustivamente impostos. Com certeza, o que não faltam são pessoas para fazer o seu tipo.
 
BREVE HISTÓRIA DA BELEZA (SEM FILTROS NO INSTAGRAM)Os padrões estéticos mudaram de acordo com os diferentes conceitos socioculturais
IDADE ANTIGA > “Mens sana in corpore sano.” A citação do poeta romano Juvenal, do século 1, sobre uma “mente sã em corpo são” associava a beleza ao intelecto no período greco-romano: homens perfeitos deveriam ter os corpos definidos — e olha que na época de Esparta não existia Whey Protein!
IDADE MÉDIA > Algumas decisões de nosso Congresso Nacional têm certa inspiração naquele período: sob a dominação ideológica da Igreja Católica, a sociedade medieval se distanciava dos cuidados com o corpo e com a estética, considerados um pecado de acordo com as leis divinas.
IDADE MODERNA > Após o período do Renascimento, no século 15, o estudo do corpo e do padrão de beleza são resgatados. Ser rechonchuda era sinônimo de saúde: a estética determinava que as musas da época tivessem barrigas proeminentes e formas roliças
IDADE CONTEMPORÂNEA > A geração de corpos sarados e magros, exibidos pelos meios de comunicação como “ideais”, tem suas consequências: cerca de 1% da população mundial sofre algum tipo de transtorno alimentar, como a anorexia nervosa, distúrbio em que o doente tem obsessão por emagrecer.

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