Existe uma lenda aimará que fala de três deuses antigos: Tunupa, Kusku e Kusina. Como as pessoas ainda contam no sudoeste da Bolívia, Kusku, o marido de Tunupa, a traiu com Kusina. As lágrimas de Tunupa foram tantas que criaram um grande lago salgado. Passaram-se séculos, mas aquele lago de lágrimas continua exatamente no mesmo lugar, só que está escondido sob um grande estrato de sal. O lago é conhecido como Salar de Uyuni (salina de Uyuni), embora alguns moradores locais prefiram dizer Salar de Tunupa, e é provavelmente uma das paisagens mais incríveis do planeta: o efeito ótico proporcionado pelo sal quando cobre a água com uma camada fina faz com que passear por sua superfície branca seja como fazer um passeio nas nuvens.
Lendas à parte, Uyuni é um imenso oceano mineral que ocupa uma superfície de 12.000 quilômetros quadrados na região boliviana de Potosí. É a maior salina do mundo, usada por cientistas para calibrar os altímetros dos satélites, graças à sua uniformidade interminável e ao céu desimpedido que o cobre. Uma paisagem imensurável situada a mais de 3.500 metros acima do nível do mar.
A profundidade do lago salgado é calculada em cerca de 120 metros, e ela abrange uma dúzia de camadas minerais diferentes com espessura que varia entre dois e 10 metros. Ao entardecer ocorre o fenômeno do chamado white out, que faz o horizonte perder a nitidez, de modo que praticamente não se consegue distinguir o céu da terra.
Pirâmides de sal
A mineração foi uma atividade de grande importância, sobretudo no final do século XIX e início do século XX, tanto que a vila de Uyuni nasceu como importante centro logístico ferroviário do qual hoje só resta um curioso cemitério de trens: máquinas e vagões abandonados, enferrujados e cobertos de pichações. A decadência dessa atividade e seu abandono final fizeram com que o cemitério de trens hoje seja uma parada obrigatória na chegada à salina, existindo até um projeto para sua futura conversão em museu ao ar livre.
É uma dose de originalidade nas frias e panorâmicas noites do altiplano boliviano. Mais insólito ainda é ver-se em um desses lugares com múmias de até 3.000 anos de idade perfeitamente conservadas, graças, novamente, às propriedades do sal.
Cactos milenares
Mas o momento “mágico” da salina acontece sem dúvida nos meses de chuvas (de dezembro a março). Nessa época, a água forma uma camada fina sobre o sal, gerando o famoso efeito espelho de Uyuni. O céu é refletido no solo, e o visitante sente que está nas nuvens.
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