Chegamos ao final da primeira semana de preparação para a negociação sobre mudanças climáticas em Bonn, na Alemanha. É o encontro que traça as linhas gerais para a conferência que ocorrerá em dezembro em Paris – a COP 21. O processo continua intenso, denso e cansativo, como há 5 anos, e a questão de fundo (de como será o mundo para nossos filhos e netos, pelo menos para os que têm mais de 40 anos como eu), e de como chegaremos até lá, ainda não foi respondida.
No início, fiquei agradavelmente surpreso com a apresentação do ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius. Ele foi incisivo na urgência, indicou a importância da participação do setor privado e da definição de um preço sobre carbono (finalmente!). Claramente afirmou que todos esperam uma forte sinalização política na COP 21. Uma posição bem diferente da Connie Hedegaard, ministra dinamarquesa de Clima e Energia no período pre COP 15 (Copenhagen). A posição de Fabius ajuda muito.
No início, fiquei agradavelmente surpreso com a apresentação do ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius. Ele foi incisivo na urgência, indicou a importância da participação do setor privado e da definição de um preço sobre carbono (finalmente!). Claramente afirmou que todos esperam uma forte sinalização política na COP 21. Uma posição bem diferente da Connie Hedegaard, ministra dinamarquesa de Clima e Energia no período pre COP 15 (Copenhagen). A posição de Fabius ajuda muito.
No entanto, a semana que começou boa evoluiu mal e conforme as negociações foram avançando, o que parecia um início promissor terminou com a constatação de que ainda não aprendemos a lição de Copenhagen. Lá, muito se negociou e pouco se avançou no combate às mudanças climáticas. Falta de confiança, falta de sinalização política, falta de recursos financeiros. Como diziam em Minas Gerais: “uma fartura danada!”. Só não falta vontade de negociar e aqui vale um aparte. Independente de acordarmos ou não com as posições dos negociadores brasileiros, tiro meu chapéu pelo empenho destes profissionais em estar em todos os momentos-chave nesta grande negociação sobre nosso futuro comum. O dia é puxado, com as primeiras conversas começando as 8hs, se complicando ao longo do dia que, em geral, só termina às 21hs, quando ainda têm que ler e avaliar os diversos documentos apresentados pelos negociadores dos outros países. Para quem chega agora, jovem e cheio de vontade, é fácil. Mas para aqueles que estão neste processo há 5, 10 ou até 20 anos, já com idade um pouco mais avançada, duas semanas nesta toada acaba com qualquer bom humor.
Para mim, que demorei alguns anos exorcizando o fantasma de Copenhagen e assimilando a frustação da ausência de um acordo ambicioso em 2009, há descobertas boas e outras não tanto. Começando pelas boas, percebi que apesar do texto estar ainda muito ruim, há ações sendo implementadas nos países. O clássico caso em que a teoria na prática é outra. Ou seja, apesar da negociação formal andar mais de lado do que para a frente, há uma direção clara para aproveitar o momento atual de novos investimentos tecnológicos. Isso devido à necessidade de reformar os grandes complexos industriais construídos nas décadas de 1970 e 1980. Essa reforma é importante para que sejamos menos intensivo no uso de recursos naturais e no consumo de energia. Assim, bons resultados em energias renováveis e eficiência energética dão um suspiro de esperança numa sociedade que busca ampliar o acesso a uma vida mais justa para cerca de 80% da população do planeta. Só isso indicaria ser possível gerar crescimento econômico clássico (o tal do PIB) com uma economia menos intensiva na emissão de carbono (a tal economia de baixo carbono). Por outro lado, olhando a parte não tão boa assim, está claro que ainda há muita sujeira embaixo do tapete. Um exemplo é a geração de energia por carvão mineral e a oriunda da exploração de petróleo, que demorarão algumas décadas para serem desmanteladas até porque ainda possibilitam um baita lucro anual e garantem a felicidade de muita gente.
Enfim, uma inquietação ronda minha cabeça ainda atordoada. É a clássica pergunta que nos farão nossos filhos e netos. O que vocês fizeram sabendo tudo o que sabiam? Ou seja, sabendo que iríamos bater num iceberg, porque não mudamos o rumo? Minha única resposta depois de uma semana tão intensa de emoções é: a gente sabia, mas mesmo forçando muito o timão fomos incapazes de mudar o rumo na velocidade requerida. Talvez deveríamos ter nos esforçado mais, ter sido mais enfáticos, eficazes e inteligentes. Poderíamos ter feito tudo, mas somos humanos e por isso falhamos continuamente, como há cinco anos e como, talvez, daqui a alguns meses em Paris.
Época.com
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