Plantar é preciso, mas não basta. Quando se fala em restaurar a biodiversidade da Mata Atlântica, é preciso esperar muitos anos. Até dois mil longos anos, em alguns casos. Um trabalho sobre florestas dos estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina revelou que a reconstituição da riqueza biológica é um processo muito mais complexo do que se supunha.
— As árvores e a vegetação menor crescem e ocupam uma área desmatada em relativamente pouco tempo, algumas décadas. Você ganha uma cobertura florestal, mas não a floresta de volta, com todo o seu vigor biológico — explica um dos autores, o biólogo Dieter Liebsch, da Universidade Federal do Paraná.
A Mata Atlântica é como uma grife cara e famosa, precisa de exclusividade. Sem suas espécies endêmicas — isto é, exclusivas, pois vivem apenas naquele quinhão do planeta —, ela não retoma sua plenitude.
Liebsch e seus colegas Marcia Marques e Renato Goldenberg fizeram as estimativas de tempo de recuperação baseados num modelo matemático. Este foi construído com variáveis sabidamente essenciais à saúde de uma floresta que possa ser considerada genuinamente desenvolvida.
Essas variáveis compõem a receita da profusão de vida selvagem que ocupava praticamente todo o litoral brasileiro até o Descobrimento. A primeira coisa é possuir 90% de vegetação de espécies originais; 80% destas devem ter as sementes dispersadas por animais, como aves, morcegos, insetos, macacos, antas e cutias. São exemplos a bicuíba, o caxetão e o guapuruvu.
O percentual de endemismo (exclusividade) das plantas precisa ser igual ou maior que 40%. Para que tudo isso seja alcançado, é necessário acertar os níveis de sombreamento, de umidade, o tipo de solo etc. É o resultado desses fatores que permite o estabelecimento de uma fauna variada.
— Trabalhamos com dados de 18 áreas e nos deparamos com um mundo complexo e delicado — diz Liebsch.
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