terça-feira, 17 de novembro de 2015

Brasil terá uma nova fronteira no mar para explorar minérios

 
Assim como já ocorre com o pré-sal, o Estado do Rio poderá se tornar o coração da exploração de uma nova fronteira marítima. Na segunda-feira, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (Isba) — órgão ligado à ONU que regulamenta a exploração na área internacional dos oceanos — assinam contrato para o Brasil explorar uma área de três mil quilômetros quadrados além da zona costeira, no meio do Atlântico Sul, em águas internacionais. No Elevado do Rio Grande, como se chama a formação rochosa no fundo do oceano a 1.500 quilômetros do Rio, o governo planeja, inicialmente, conhecer a biodiversidade local e, futuramente, explorar minérios raros e valiosos no fundo do mar.
 

 
O CPRM espera que a iniciativa estimule a criação de um parque inovador com novas tecnologias e equipamentos de ponta para auxiliar nas pesquisas, com empresas privadas, universidades e cooperação com outros países. As expedições partirão das instalações do CPRM no município do Rio.
— Há aqui a possibilidade de criação de um polo tecnológico, não só de geologia marinha, mas de ecologia — disse Roberto Ventura, diretor de geologia e recursos minerais do CPRM, estatal ligada ao Ministério de Minas e Energia.
 
R$ 60 MILHÕES DO PAC
 
Pela concessão, o Brasil vai se comprometer a investir pelo menos US$ 11 milhões no período de cinco anos no conhecimento da região. Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o CPRM já investiu R$ 60 milhões para mapear a região e encontrar os blocos mais promissores, em uma área quase 50 vezes maior do que a que foi inicialmente analisada.
Segundo Ventura, com o acordo, o Brasil passa a incorporar um seleto grupo de países que detêm apenas 24 contratos com a Isba atualmente para explorar áreas internacionais nos mares do mundo, entre eles China, Noruega, Alemanha, Japão e Coreia. O Brasil também será o primeiro país a ter direito de pesquisar uma área do Atlântico Sul. Atualmente, apenas
Rússia e França têm áreas de pesquisa no Atlântico, mas na faixa equatorial.
— Melhorar a infraestrutura brasileira não é só construir estradas, usinas, ferrovias, mas encontrar conhecimento que possa viabilizar o desenvolvimento econômico e a atração de investimentos. A pesquisa em meio ambiente e geologia marinha é um avanço nessa linha — disse Ventura.
A exploração de minérios no mar ainda tem custos elevados — como o pré-sal, na origem — e gera uma grande preocupação ambiental. As primeiras expedições do Brasil dentro do acordo com o Isba vão justamente fazer um levantamento da biodiversidade dos 150 blocos concedidos, para identificar as áreas ambientalmente sensíveis. A ideia, segundo Ventura, é estabelecer
uma linha de base ambiental para o monitoramento da região.
PRESENÇA ESTRATÉGICA
De acordo com os levantamentos iniciais, a área pode conter novas formas de vida até agora desconhecidas e, abaixo do solo, minérios de alto valor, como ferro, manganês, cobalto e terras-raras (fundamentais para aparelhos de alta tecnologia, como smartphones e tablets). Mas só a última etapa dos estudos indicará a viabilidade econômica, ambiental e técnica da exploração dos minérios. Ventura lembra, porém, que o petróleo do pré-sal está muito mais profundo do que o local onde ocorreria, inicialmente, a atividade de exploração mineral.
A presença no Atlântico Sul é importante em termos políticos e estratégicos, porque por ali passa a maior parte do nosso comércio exterior, tem o pré-sal e muita atividade de pesca — disse o capitão de mar e guerra Carlos Leite, representante do Brasil na comissão técnica e jurídica da Isba.
MERGULHO DE 4 MIL METROS
Pelo compromisso, o Brasil também será obrigado a levar pesquisadores internacionais à região, assim como técnicos do CPRM já participaram de expedições em águas internacionais capitaneadas por outros países. Segundo Ventura, a ideia do Brasil é levar especialistas de países da África e de vizinhos da América Latina, como forma de liderar essas pesquisas na região meridional do planeta.
Depois de promover esse levantamento geológico pela CPRM, o governo poderá conceder parte dos 150 blocos de 20 quilômetros quadrados cada, para que uma empresa privada venha a exercer a atividade mineral no Atlântico Sul. Há companhias brasileiras que já se interessam pelo fundo do oceano. O Brasil recebeu em julho deste ano, por exemplo, em Niterói (RJ), o navio hidroceanográfico de pesquisa Vital de Oliveira, em um investimento de R$ 162 milhões dividido por Petrobras, Vale, ministérios de Ciência e Tecnologia e da Defesa e pela Marinha. A Vale pagou R$ 70 milhões desse total.
O navio, de 3,5 mil toneladas, possui um robô que, remotamente, pode mergulhar a até 4 mil metros de profundidade para buscar objetos no fundo do oceano e detectar recursos minerais em águas profundas. As profundidades do Alto do Rio Grande variam entre 800 e quatro mil metros.
Jornal O Globo


 

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