Pesquisadores trabalhando com o satélite Maven, que desde setembro do ano passado está orbitando o planeta vermelho, especificamente para estudar o fenômeno, apresentaram os primeiros resultados das análises.
Eles detalham como o ar marciano está sendo removido em grandes altitudes por causa da interação dos gases com o Sol. Os pesquisadores americanos calcularam a taxa com que os gases estão escapando e os dados sugerem que a "fuga" foi ainda maior no passado.
Vento solar
Diversas missões enviadas a Marte revelaram indícios de que o planeta um dia foi coberto por água e por uma atmosfera espessa - o relevo tem sinais de rios, canais e lagos. Hoje, porém, a pressão atmosférica em Marte é apenas 1% comparada com a da Terra.
Por conta disso, a água evapora instantaneamente ou congela.
O satélite Maven dá 'mergulhos' na atmosfera marciana Foto: Nasa
"Estamos no caminho certo para responder muitas perguntas. Muito mais do que achei que estaríamos neste estágio", afirma Bruce Jakosky, principal cientista da equipe do projeto da agência espacial americana, a Nasa.
Jakosky disse à BBC que o projeto já teve aprovada uma nova fase de estudos, que observará atmosfera durante um ano inteiro marciano.
Cientistas dizem que parte do ar marciano pode ter reagido com a superfície e sido incorporado, mas a explicação mais provável para a perda atmosférica - e que o Maven está investigando - é que o Sol simplesmente a destruiu, fazendo com que Marte passasse de planeta úmido e quente a um seco e gelado.
O Maven tem feito uma série de mergulhos na atmosfera marciana, o que permite analisar os gases e registrar como eles se comportam quando "excitados" pela radiação solar.
Marte teria um dia contado com rios e lagos antes do "ataque" levado a cabo pelo Sol Foto: Nasa / BBCBrasil.com
O Sol emite um fluxo constante de partículas, chamado Vento Solar. Esse vento carrega campos magnéticos que, quando atingem o planeta, geram campos elétricos que aceleram partículas da atmosfera, jogando-as no espaço ou as chocando contra outros componentes da atmosfera, causando sua remoção.
A taxa de perda é ínfima per se , mas é significante quando aplicada aos 4,5 bilhões de anos de história de Marte.
"Descobrimos que 100 gramas de atmosfera escapam a cada segundo. É como se imaginássemos hambúrgueres voando para fora da atmosfera de Marte. Um por segundo. Mas na verdade, são oxigênio e dióxido de carbono deixando o planeta, dois gases importantes não só por causa da água, mas para o clima do planeta de maneira geral", explica Jasper Halekas, outro cientista envolvido no projeto.
Vento solar e "bolhas energéticas" dilapidaram atmosfera marciana ao logo de milhões de anos Foto: iStock
A equipe do Maven também estudou o impacto de uma ejeção de massa em Marte há oito meses. Trata-se de uma espécie de bolha de gás expelida pelo sol, movendo-se mais rápido e carregando mais energia que o vento solar. Quando a bolha atingiu a atmosfera marciana, as taxas de escape ficaram de 10 a 20 vezes mais rápidas.
"Tempestades solares eram mais comuns e mais intensas em eras mais antigas do Sistema Solar, então acreditamos que o escape tenha ocorrido com frequência há muito tempo e deve ter 'raspado' muito da atmosfera marciana", diz Halekas.
O fenômeno teria sido evitado caso Marte tivesse retido seu campo magnético, que poderia "desviar" os ataques sofridos pelo Sol. Mas cientistas acreditam que o "motor" interno gerando tal campo no planeta parou de funcionar algumas centenas de milhões de anos atrás.
Felizmente para a Terra, o campo magnético global de nosso planeta continua a funcionar e a nos proteger. Do contrário, nosso sistema climático poderia ter sido alterado de maneira bem parecida.
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