A linguagem politicamente correta surgiu nos Estados Unidos na década de 70, como herança do movimento de defesa dos direitos civis do pós-guerra. Com ela, claro, desenvolveu-se um enorme mercado de processos judiciais. De acordo com sua lógica, usar certas palavras legitima o preconceito e propaga visões discriminatórias contra grupos sociais. A mudança seria o primeiro passo para eliminar o preconceito enraizado na linguagem.
Pois agora, querem transformar a palavra "gordo" em palavrão! A palavra soa mal? Para algumas pessoas, sim! Da mesma forma que negro, cego ou pobre - ou melhor, afrodescendente, deficiente visual ou menos favorecido - falar "gordo" está se tornando ofensa. E a mídia americana já começa a adotar a nova tendência politicamente correta. Na semana passada, uma articulista de um site americano escreveu que "as pessoas costumavam ter medo de ficar gordas; agora têm medo de dizer...gordo". O que substituiria a palavra proibida? "Portador de sobrepeso"?
Na prática, a patrulha da língua enfraquece o idioma e empobrece a comunicação. "Palavras com uma história de 2 mil anos, estão sendo banidas de nosso dia a dia", defende Aldo Bizzocchi, doutor em linguística da Universidade de São Paulo (USP). "O problema está na intenção ao dizer algo, não na palavra em si. Não é ofensa nenhuma dizer que Beethoven era surdo".
No Brasil, o controle do idioma ainda não é tão severo. Gordo e negro são palavras aceitas, embora com cada vez mais ressalvas.
Afrodescendente já pegou nos discursos e nas teses de mestrado e doutorado. "Homossexualismo" aos poucos vai mudando para "homossexualidade", de acordo a orientação dos grupos de gays que veem no sufixo "ismo" uma conotação de doença. Há alguns anos, quem perdia uma perna era "aleijado". Depois passou a ser tratado como "deficiente". Recentemente, virou "portador de deficiência", agora é "portador de necessidade especial".
Em 2006, a Secretaria de Direitos Humanos lançou a cartilha do politicamente correto, com 96 expressões consideradas preconceituosas. A lista desestimulava termos como "anão" e "palhaço". A cartilha foi tão criticada que o governo a suspendeu. A ideia de vigiar a linguagem, porém, continua viva e forte - mas não "gorda".
(Fonte: Texto de Martha Mendonça - Revista Época)
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