A imagem mais conhecida da "Independência do Brasil" (na foto) mostra D. Pedro às margens do Ipiranga. Mas, este acontecimento nem sequer era comemorado no início do Império. O dia 7 de setembro é uma das pinturas mais populares da História do Brasil. Há muitas décadas figura nos livros didáticos, revistas e jornais por ocasião das comemorações da Independência.
No entanto, esta imagem é fruto da imaginação de um artista - Pedro Américo - que nem tinha nascido quando o episódio aconteceu. E a partir de documentos históricos, a pintura foi feita entre os anos de 1886 e 1888, portanto depois do "Grito", ou seja, 60 anos depois!!!
Historiadores têm demonstrado que foram necessárias muitas décadas para que o hoje famoso episódio do "Grito do Ipiranga" adquirisse o status que ele possui no contexto das narrativas sobre a Independência. Como demonstra a pesquisadora Cecília Helena de Oliveira em seu estudo sobre o tema, a data de 7 de setembro não foi considerada, de início, particularmente relevante como marco simbólico da formação da nação, nem pela imprensa, nem pelo próprio D.Pedro.
Em carta dirigida aos paulistas, no dia seguinte ao episódio ocorrido às margens do Ipiranga, o príncipe fala da necessidade de retornar ao Rio de Janeiro em função das notícias recebidas de Portugal. Na longa carta, não há qualquer referência ao "Grito". A Independência do Brasil não estava inteiramente consumada. Dependia também de negociações políticas (pra variar...).
Da mesma forma, os jornais da época, que ensaiaram as primeiras narrativas sobre a Independência do Brasil, não traziam qualquer menção à data de 7 de setembro.
Outras datas, como o 9 de janeiro, o dia do "Fico", em que D. Pedro recusou-se a embarcar para Portugal desobedecendo as ordens das Cortes de Lisboa, ou o dia 12 de outubro, na qual ocorreu a Aclamação de D. Pedro I como Imperador do Brasil ou ainda, o dia 1º de dezembro, data da Coroação, foram mencionadas, mas nunca o 7 de setembro.
Era fundamental para as elites vinculadas ao governo que o processo de independência se transformasse em uma revolução popular, como ocorrera na América Espanhola. Assim nos primeiros anos que reafirmavam a monarquia Bragança, como a aclamação e a coroação de D. Pedro I, é que foram postas em evidência.
Em 1826, com a publicação do testemunho do padre Belchior Pinheiro Ferreira, foi incluída a data de 7 de setembro no calendário de festividades da Independência. O relato dava forma e voz a reinvindicação paulista de ter sido palco dos principais acontecimentos que levaram à ruptura com Portugal. Graças a ele, o "Grito" ganhou força na imaginação popular, e se difundiu à medida que a importância política e econômica de São Paulo foi crescendo no cenário do país.
O relato do padre Belchior também enfatizava a atuação de D. Pedro I, mostrando-o não somente como o legítimo herdeiro dos Bragança e, portanto, como o elo que possibilitaria a continuidade na mudança, mas como um herói, capaz de tomar o destino do país em suas mãos. Porém essa dimensão da narração do padre permaneceu inexplorada ainda por algumas décadas, explicitando-se inteiramente apenas no final do século, na famosa obra de Pedro Américo - que pintou o quadro - para decorar uma sala do Museu do Ipiranga (ou Museu Paulista).
Fonte: História Viva
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