Talvez a descoberta iminente do bóson de Higgs, partícula responsável por dar massa a todas as outras, não passe de miragem -algo que parece ser ele, mas não é.
É o que sugere um estudo teórico feito por um trio de cientistas no Brasil. Eles oferecem uma explicação alternativa para as recentes observações no LHC (Large Hadron Collider), o maior acelerador de partículas do mundo.
Em dezembro, pesquisadores de dois dos experimentos instalados no acelerador, Atlas e CMS, anunciaram ter achado indícios da presença do fugidio Higgs em meio às colisões na instalação.
O LHC descobre novas partículas produzindo-as. Para isso, ele promove a colisão de prótons em alta velocidade. Quando ocorre o impacto, a energia acumulada nos prótons é convertida numa miríade de partículas, muitas delas com vida bem curta.
Seria o caso do famoso Higgs, conhecido como a "partícula de Deus" por sua importância na atribuição de massa a todas as outras. Pela teoria, ele dura uma fração de segundo antes de decair, transformando-se em outras partículas mais leves.
A identificação do bóson se faz pelo número de eventos de decaimento associados a ele. É uma questão de estatística. Por isso os cientistas ainda não confirmaram se o Higgs está mesmo lá.
Se o achado não se confirmar, será preciso buscar outro modelo para o Higgs. E é isso que Gustavo Burdman e Carlos Haluch, da USP, e Ricardo Matheus, da Unesp, acabam de apresentar.
Em artigo publicado no repositório de estudos de física Arxiv.org, eles sugerem um modelo diferente mas compatível com as observações feitas até agora no LHC.
Segundo o estudo, o que os cientistas estão vendo no acelerador seria uma partícula associada ao Higgs, mas não o próprio bóson.
Enquanto o Higgs tradicional se transforma em diversas partículas, como pares de fótons e de partículas Z e W, a partícula sugerida por Burdman e seus colegas decai em fótons, mas não em Z e W.
Por conta disso, será possível separar o Higgs verdadeiro de sua "miragem". Mas, por ora, até os autores do novo estudo admitem que o mais provável é a confirmação da opção tradicional.
"Um maior acúmulo de dados, ao longo de 2012, vai definir a situação. Se só o sinal de fótons se confirmar, então não se trata da partícula que a gente chama de Higgs. Nesse caso, nosso modelo poderia dar uma possível explicação", diz Burdman.
Para os experimentalistas do LHC, trabalhos como esse só significam mais emoção.
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