segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Malvinas vira foco de tensão entre Argentina e Grã-Bretanha 3 décadas após a guerra

A recente troca de acusações entre dirigentes da Argentina e da Grã-Bretanha ameaça deteriorar e relação entre os dois países e reacende os temores de uma possível escalada na tensão entre as nações, que foram à guerra há quase 30 anos.
Mais uma vez, o centro da discórdia são as Ilhas Malvinas, o pequeno arquipélago 500 km ao leste do extremo sul da Argentina, anexado pela Grã-Bretanha desde 1833.
Nesta semana, o premiê britânico, David Cameron, respondendo a novas iniciativas do governo Cristina Kirchner para pressionar por negociações sobre o futuro das Malvinas (chamadas de ilhas Falkland pelos britânicos), acusou a Argentina de estar adotando uma postura "colonialista", afirmação respondida no mesmo tom de acusação por ministros argentinos.
Desde o fim do conflito, deflagrado em abril de 1982, a Argentina insiste que negociações bilaterais sejam abertas para tratar da soberania das ilhas, enquanto a Grã-Bretanha diz que não há o que discutir, já que os moradores do local querem permanecer cidadãos britânicos.
No entanto, enquanto David Cameron mantém a postura de seus antecessores, tanto conservadores quanto trabalhistas, seus colegas argentinos vêm desfechando uma ofensiva diplomática para fortalecer a sua posição.
Recentemente, o requerimento de Buenos Aires obteve o apoio da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), assim como da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Além disso, os países do Mercosul aderiram a uma moção para não permitir a entrada de barcos que levem a bandeira das Malvinas em seus portos, medida que Londres inicialmente classificou de "bloqueio".
 Em ocasiões anteriores, ambos os países afirmaram quem, acima de tudo, está o interesse de manter a paz. Mesmo a Argentina, que é parte demandante, disse várias vezes que sua reivindicação é pacífica.

Declarações ásperas

Observadores dentro e fora do Cone Sul concordam que a situação geopolítica mudou muito desde os anos 1980, quando ocorreu a guerra. Em geral, há um consenso de que um novo conflito armado é improvável. No entanto, as declarações recentes de ambas as partes chama a atenção por sua aspereza.
David Cameron disse que a questão das Malvinas foi tratada na última terça-feira com o Conselho de Segurança Nacional. "Devo me certificar de que nossas defesas estão em ordem", disse o primeiro-ministro aos parlamentares britânicos.
Já no início desta semana, um navio de cruzeiro que se dirigia à Antártida, ocupado por centenas de passageiros de diversas nacionalidades, foi impedido de desembarcar nas Malvinas por supostas questões de saúde.
O governo das ilhas afirmou que vários passageiros apresentavam um quadro de gastroenterocolite, motivo pelo qual foram impedidos de desembarcar. Relatos publicados na mídia indicaram a surpresa dos integrantes da tripulação do navio, diante do que consideraram uma medida extremamente rigorosa.
O episódio foi referido pela chancelaria argentina, que emitiu um comunicado criticando a ação do "governo ilegítimo e autodenominado" das Malvinas, acrescentando que esperavam que este não se tratasse "do enésimo ato hostil".

Colonialismo

As rusgas mais recentes foram verificadas na última terça-feira, quando a postura argentina foi chamada de "colonialista" pelo primeiro-ministro britânico. "Essas pessoas (os habitantes das Malvinas) querem continuar sendo britânicos, e a Argentina pretende o contrário", disse Cameron.
A resposta argentina veio por meio do ministro das Relações Exteriores, Héctor Timerman. "Chama a atenção que a Grã-Bretanha fale de colonialismo, quando é um país sinônimo de colonialismo", disse ele, durante viagem a El Salvador.
"Chama a atenção também que a Grã-Bretanha acuse um país como a Argentina, que é vítima de uma situação colonial, como expressaram as Nações Unidas ao definir as Malvinas como uma questão de soberania e colonialismo", acrescentou Timerman.
O ministro se refere a uma resolução da ONU emitida em 1965, onde a postura britânica é descrita como uma forma de colonialismo. Desde então, as Nações Unidas pedem que as duas partes negociem uma saída.
Em visita ao Brasil, o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que a posição de seu país sobre as ilhas é "bem conhecida" e não vai mudar.
"Acreditamos na autodeterminação do povo das ilhas Falkland e apoiamos seus direitos", afirmou ele na quarta-feira.
BBC.com

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