Há tempos já se acreditava que os vales, canais e deltas vistos da órbita
eram obra da erosão provocada pela água, e o jipe-robô Curiosity, da Nasa, acaba
de oferecer "provas de solo" disso.
Pesquisadores relatam que sua observação de pedregulhos arredondados no solo
da cratera de 150 km Gale, no Planeta Vermelho.
Sua aparência suave é idêntica à de cascalhos encontrados em rios da
Terra.
Fragmentos de rocha que se chocam pelo leito de um curso d'água perdem suas
arestas; e quando esses pedregulhos se acomodam, costumam se alinhar de forma
sobreposta.
O jipe-robô Curiosity observou isso em diversas áreas na base da cratera
Gale.
É uma confirmação de que a água teve um papel em esculpir não apenas a
cratera, mas muitas das outras formas geográficas vistas no planeta.
Remanescentes
Ao longo de décadas, especulamos que a superfície de Marte teria sido
esculpida pela água, mas esta é a primeira vez em que podemos ver os
remanescentes de um fluxo (d'água)", diz Rebecca Williams, do
Planetary Science Institute, nos EUA.
A Nasa anunciou a descoberta dos pedregulhos em setembro do ano passado,
apenas sete semanas depois de o Cusiosity ter aterrissado em Gale.
Desde então, pesquisadores têm estudado os detalhes das fotos feitas pelos
robôs. Agora, escreveram um artigo na revista cientítica Science - o
primeiro documento acadêmico publicado sobre a missão - reforçando essa tese
inicial.
O artigo descreve a natureza da área e estima as prováveis condições em que
seus sedimentos se acumularam.
Os pedregulhos têm cerca de 40mm de diâmetro - grandes demais para terem sido
levados pelo vento.
Em muitos lugares, eles se encostam, e fotos mostram arranjos de pedregulhos
alongados empilhados como em uma fileira de dominós derrubados - um clássico
sinal de que ali houve atividade fluvial.
Bilhões de anos
Não é possível determinar com precisão a data das formações geográficas de
Marte, mas as rochas vistas pelo Curiosity provavelmente têm mais de 3 bilhões
de anos.
As fotos do jipe-robô permitiram aos pesquisadores entender a velocidade e a
profundidade da água que um dia passou pela cratera.
"Estimamos que a velocidade do fluxo era semelhante à de uma caminhada. Não é
algo que podemos reconstruir com absoluta certeza, mas nos dá uma ideia geral",
explica Sanjeev Gupta, do Imperial College, em Londres.
"Também podemos dizer que a profundidade da água variava entre a altura de um
tornozelo à de uma cintura. É a primeira vez que podemos quantificar isso (em
Marte), algo rotineiro na Terra."
Os pedregulhos têm tonalidades escuras ou claras - mais um indicativo de que
erodiram de diferentes tipos de rocha e foram transportados de locais
diferentes.
Usando um sensor remoto, o jipe-robô detectou, nas pedras mais claras,
vestígios de feldspato - mineral comum na Terra e que se deteriora na presença
de água. Isso sugere que as condições antes observadas em Marte não eram
extremamente úmidas e que os pedregulhos foram levados por uma distância
pequena, talvez 10 a 15 km.
Isso condiz com observações de satélites sobre o que parecia ser uma rede de
antigos rios ou córregos ao norte de Gale.
O Curiosity deve retornar nas próximas semanas rumo ao Monte Sharp, no centro
da cratera. A expectativa dos cientistas é de que, no caminho, o jipe-robô passe
por cenários semelhantes de rochas e tire novas fotos - agora, com resolução
ainda melhor, que traga ainda mais detalhes dessas formações.
BBC.com
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