domingo, 23 de junho de 2013

Pesticidas provocam grande perda de biodiversidade

Pesticidas agrícolas foram associadoss à grande perda de biodiversidade de invertebrados em dois novos artigos de pesquisa.
Um estudo publicado em 17 de junho em Proceedings of the National Academy of Sciences descobriu que o uso de pesticidas reduziu muito a biodiversidade regional de invertebrados de córregos, como libélulas e efeméridas, na Europa e na Austrália.
Pesquisas anteriores mostraram reduções em córregos individuais, mas o estudo de Mikhail Beketov, ecologista aquático do Centro Helmholtz para a Pesquisa Ambiental em Leipzig, na Alemanha, e seus colegas analisaram os efeitos de pesticidas em grandes regiões.
A equipe examinou 23 córregos na planície central da Alemanha, 16 na planície oeste da França e 24 no sul de Victoria, na Austrália. Eles classificaram os córregos de acordo com três níveis diferentes de contaminação por pesticidade: não-contaminado, levemente contaminado e altamente contaminado.
Os pesquisadores descobriram que havia até 42% menos espécies em córregos altamente contaminados do que em córregos não-contaminados na Europa. Córregos altamente contaminados da Austrália mostraram uma redução de até 27% no número de famílias de invertebrados quando comparados com córregos não-contaminados.
Além disso, os autores declaram que a diversidade diminuiu com concentrações de pesticidas que as normas europeias consideram proteger o ambiente. “Isso mostra que nossas avaliações de risco não funcionam”, aponta Beketov. “Eu acho que deveríamos nos preocupar com isso, porque invertebrados são uma parte importante da cadeia alimentar”.
Emma Rosi-Marshall, ecóloga aquática do Instituto Cary de Estudos do Ecossistema em Millbrook, Nova York, declara achar os resultados atraentes. “Estamos em um momento de crise, com perdas de espécies em escala global, especialmente em sistemas de água doce. Considerar pesticidas junto a outras ameaças à biodiversidade pode ser crucial para deter o declínio de espécies”, completa ela.
Mas o toxicólogo Keith Solomon, da University of Guelph em Ontario, no Canadá, se preocupa com o tamanho da amostra do estudo. “Isso nos faz perguntar o que está acontecendo em todos os outros córregos do mundo”, observa ele. “Se esses córregos representam o pior caso possível, então os efeitos só podem ser confinados a esses tipos de cenários e não se aplicam ao ambiente como um todo”.

A ameaça dos inseticidas

O segundo artigo, do biólogo Dave Goulson da University of Sussex, no Reino Unido, revê o risco ambiental oferecido por inseticidas neonicotinóides. Sua publicação em 14 de junho em The Journal of Applied Ecology acontece logo após a Comissão Europeia anunciar, em abril, uma proibição de dois anos sobre três neonicotinóides comumente usados. A proibição ocorre devido a preocupações com a morte de abelhas.
O trabalho de Goulson inclui dados de empresas agroquímicas e sugere que neonicotinoides se acumulam no solo a níveis que podem matar invertebrados do solo como a Eisenia foetida, um tipo de minhoca.
“Grande parte desses estudos sugere que a meia-vida desses químicos fica entre um e quatro anos”, declara ele. “Se você aplicar esses químicos uma vez por ano em plantações, eles vão acumular”.
A revisão de Goulson também cita estudos anteriores, sugerindo que aves que se alimentam de grãos, como perdizes, podem morrer após ingerir apenas cinco sementes tratadas com neonicotinoides. O inseticida é mais frequentemente aplicado como tratamento de sementes de plantações como milho e grãos de soja. “Talvez o intenso foco nas abelhas tenha cegado as pessoas para implicações mais vastas”, comenta Goulson.
Os dois artigos demonstram a importância de conduzir avaliações do ecossistema após o uso de pesticidas, explica o ecotoxicologista Ken Drouillard da University of Windsor, em Ontario, no Canadá. “Nós não podemos achar que nosso trabalho está terminado após a pré-aplicação da avaliação de risco”, alerta ele. “Infelizmente, durante uma crise econômica global, cortes de orçamento vêm ao custo do monitoramento da saúde ambiental”.
Este artigo foi reproduzido com permissão da revista Nature. O artigo foi publicado pela primeira vez em 17 de junho de 2013.
Scientific American

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