Jean Michel Cousteau, 75 anos, seguiu os passos do pai e é oceanógrafo e ambientalista. E, para quem acha que a proteção dos oceanos é uma questão distante, ele faz um alerta: "Usamos os oceanos como lixo, a poluição e contaminação se acumulam, afetam toda a cadeia alimentar e chegam a seu prato". Segundo Cousteau, em suas incursões pelos mares, já encontrou muitos peixes mutantes, caranguejos sem as características pinças e outros animais afetados pela contaminação humana.
"As pessoas têm que entender que só temos uma fonte de água. Meu pai tinha o sonho de ir ao nordeste do pacífico, um lugar no meio do nada entre os EUA e o Japão, sem contato nenhum com o homem. Mas percebemos que toneladas de peixes vinham de vários países, e o que encontramos lá? Milhares de produtos químicos, que estão na pílula que você toma para dor de cabeça, vão para os oceanos e vimos que eles têm consequências graves. Não só nos oceanos, mas também na água doce. E estamos colocando isso no nosso prato", destacou no Fórum Mundial de Meio Ambiente, em Foz do Iguaçu.
O oceanógrafo também lembrou que traços de radiação da usina de Fukushima no Japão foram encontrados em atuns na costa da Califórnia, nos EUA. "Os japoneses não comunicam direito os alcances do vazamento porque não querem assustar as pessoas, mas assim as pessoas não sabem as consequência da catástrofe", afirma.
Cousteau ressalta que as informações oficiais são de que a contaminação foi pequena, mas a radiação é absorvida por algas, que são comidas por peixes pequenos, que são alimento para peixes maiores e assim por diante. "O atum é o peixe mais rápido do oceano, nada a 64 km/h. Ele nada por todo o pacífico e a radiação vai se acumulando até que ela possa afetar as pessoas".
O vazamento de óleo também é lembrado pelo pesquisador como um fator de grande impacto na vida marinha. "40% da pesca dos EUA vêm do Golfo do México, por isso a contaminação da BP foi tão preocupante". Ele lembra ainda que as orcas, sua criatura favorita nos oceanos, estão com a população em perigo porque o petróleo atrapalha sua reprodução.
Já as focas comem muito plástico que está nos mares, porque confundem com alimento. "Foi encontrada uma foca com 3,5 kg de plástico na barriga. Pássaros que vem do hemisfério sul para por ovos também encontram muito entulho. Temos que parar de usar os oceanos como lixo", conta.
Com fome ninguém aprende
"Quando eu tinha pouco mais de 5 anos, eu comecei a conhecer o que é 65% do mundo, os oceanos. Meu pai falava: como a gente vai proteger o que a gente não conhece? É o que eu chamo de educação", diz Cousteau. Ele lembra ainda que "com fome ninguém aprende nada", então o Brasil deveria investir na erradicação da pobreza para conservar o meio ambiente.
"Vocês têm uma grande oportunidade de ser exemplo para o mundo. Vocês têm todos os recursos que precisam. 20% de toda água doce do mundo está no Brasil, as pessoas querem ajudar", concluiu.
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