sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Afinal, de quem é o rosto da Esfinge?

Mesmo consumida pela erosão e mutilada pelos homens, não há monumento antigo que rivalize em majestade e mistério. Decifrar seu enigma, porém, é hoje proibido!
Liberar a Esfinge do seu manto de areia é trabalho para dezenas de homens. Por isso há muito esta tarefa foi renunciada, e o monumento ficou entregue à ação do tempo. No meio do deserto, imponente, a escultura lavrada na rocha vem provocando há séculos a imaginação dos viajantes, pois carrega um enigma: de quem é afinal este rosto?
Em 1817 o aventureiro genovês Giovanni Caviglia lançou-se à restauração, liberando o corpo do animal da areia que escorria como água e ameaçava tragar os trabalhadores ocupados em cavar trincheiras de mais de 20 metros de profundidade. Foi assim que ele chegou ao pavimento do santuário e descobriu o que desde a antiguidade ninguém jamais revira: a famosa estela (coluna de pedra) de Tutmés IV (ou Tutmósis), da XVIII dinastia egípcia. Trata-se de um bloco de granito rosa esculpido que compunha o fundo de uma capela construída entre as patas da Esfinge.
Não há menção à majestosa figura entre os viajantes gregos da antiguidade. Estranho, pois parece impossível que o historiador Heródoto não a conhecesse, tendo vivido no século IV a.C., quando o sítio estava em plena atividade.
Só o naturalista romano Plínio, o velho, morto no ano 79 d.C., descreveu o monumento: "A Esfinge (...) é a divindade local dos habitantes. Pensam que se trata da tumba do rei Armais". Detalhe: a história não registra a existência desse rei.
Seu relato inspirou a missão do egiptólogo francês Auguste Mariette, em 1853. Ele reuniu dezenas de homens e lançou-se à batalha contra o deserto. Lavrado por inteiro na rocha maciça, o colosso de 20m de altura, 73m de comprimento não se deixava decifrar. "Esperava-se encontrar algumas das câmaras, que deviam, com a ajuda de inscrições nas paredes, esclarecer a época de sua construção". Nada na estrutura da estátua permitia identificar tumbas. E seguiu como lenda a teoria de que debaixo da Esfinge ocultavam-se câmaras mortuárias, entre as quais o desconhecido rei Armais.
Chegando às patas do animal, ele localizou a famosa estela de Tutmés IV. Esse faraó do Novo Império (de 1550 a 1069 a.C.) teria sido o responsável pelo renascimento do culto à Esfinge, retirando-a das areias onde os soberanos do Médio Império (de 2033 a 1650 a.C.) a deixaram soçobrar.
Foi a partir do Novo Império que a Esfinge passou a ser designada como um deus terrestre associado a Hórus, divindade celeste. O rosto poderia corresponder, portanto, à aparência do rei, hipótese que o egiptólogo francês Nestor l'Hôte havia levantado na primeira metade do século XIX: "A Esfinge era o emblema da sabedoria unida à força, atributo próprio à divindade e concedido aos faraós, imagem viva da divindade na terra".
Para Mariette, a Esfinge seria anterior ao reino de Queóps (2590 a 2565a.C.). Mas essa certeza não durou, pois ele próprio descobriu estátuas datadas de época posterior, do reino de Quéfren (2558 a 2533a.C.), não longe do local. Os egiptólogos modernos concluíram que o templo foi construído por aquele faraó e, portanto, também a Esfinge poderia ser obra de Quéfren.
Cientistas americanos buscaram confirmar na década de 1990 a pesquisa de Mariette. Depois de estudos de resíduos calcáreos na rocha, concluíram que a Esfinge foi mais desgastada pelo tempo que os monumentos vizinhos, do Antigo Império. "A erosão da Esfinge, comparada à das tumbas do Antigo Império, distantes apenas 200 metros, indica que ela é milhares de anos mais velha, mais antiga que as pirâmides".
O monumento deveria datar de cerca de 7000a.C. Mas os egiptólogos objetaram: onde estariam os vestígios da civilização mais antiga que teria esculpido a Esfinge? embora integrada ao complexo funerário de Quéfren, a Esfinge não se encontra alinhada ao eixo de sua pirâmide. Por isso parece ser obra do reino de Queóps.
Nenhuma equipe científica está mais autorizada a se aproximar do sítio arqueológico - a não ser para trabalhos de restauração. E disso resulta uma situação absurda: cada um se aferra a suas opiniões, e nenhuma descoberta permite comprovar uma ou outra tese.
E, portanto, a pergunta vai permanecer: De quem é o rosto da Esfinge???
Fonte: História Viva


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