Um grupo internacional de pesquisadores descobriu uma enorme quantidade de fitoplâncton debaixo do gelo do Ártico. A descoberta surpreendeu os especialistas por duas razões. Em primeiro lugar, pelo local: afinal, os organismos ficam abaixo de extensas camadas de gelo, o que impede a absorção de luz, necessária à realização de fotossíntese. Em segundo lugar, chamou a atenção dos pesquisadores a grande quantidade de organismos encontrada, que ocupava uma área equivalente a 100 quilômetros de diâmetro e 30 metros de profundidade. Os resultados do estudo, realizado em julho do ano passado no mar de Chukchi, entre o Alasca e a Sibéria, foram publicados nesta quinta-feira na revista Science.
Esses fitoplânctons não são percebidos em imagens de satélite, já que estão abaixo das placas de gelo. Para encontrá-los, os cientistas fizeram perfurações nas placas geladas no gelo e usaram câmeras de filmagem.
Os autores do estudo não sabem ao certo quando e de que forma essa grande massa de fitoplâncton se proliferou debaixo das plataformas de gelo, mas eles acreditam que ela pode estar sendo ampliada pelo aquecimento global. O aumento da temperatura faz com que as placas de gelo derretam e sofram redução na espessura, permitindo maior passagem de luz.
"Ficamos atônitos. Foi completamente inesperado. Foi, literalmente, o florescimento de fitoplâncton mais intenso que vi nesses 25 anos em que faço este tipo de pesquisa", afirmou Kevin Arrigo, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade de Stanford, na Califórnia.
A surpresa pela descoberta deve-se ao fato de que os cientistas acreditavam, até então, que o clima frio do Ártico não oferecia condições para o florescimento desses organismos. "Como os tomates em uma horta, todo fitoplâncton requer luz e nutrientes para crescer", explicou Arrigo. "Supunha-se que havia pouca luz debaixo do gelo e não esperávamos ver muitas destas algas".
Arrigo disse que a descoberta provocou uma mudança fundamental na compreensão do ecossistema do Ártico, que era considerado frio e desolado. "Esta pode ser a maior concentração de fitoplâncton do mundo", afirmou Arrigo. Ele se surpreendeu com o fato de que esses fitoplânctons cresceram sob uma camada de gelo marinho tão grossa quanto a altura de uma criança de cinco anos. Esta descoberta sugere que o Oceano Ártico é mais produtivo do que se acreditava: os autores chegam a falar em uma produção biológica dez vezes maior do que se pensava.
Próximos passos — Entre as questões que os autores deixaram sem resposta, está o impacto que o aumento dos fitoplânctons provoca no ecossistema local, já que aqueles organismos são a base da cadeia alimentar marinha. Os cientistas esperam também conseguir medir a absorção de gás carbônico (CO2) na região, já que os fitoplânctons utilizam esse gás no processo de fotossíntese.
FITOPLÂNCTONS São organismos fotossintetizantes que flutuam livremente nos oceanos. A maioria é microscópica, mas eles costumam ser visíveis a olho nu porque se concentram em grandes quantidades. Semelhantes às plantas terrestres — que também fazem fotossíntese —, eles formam a base da cadeia alimentar marinha, servindo de alimento para seres vivos como peixes
Veja.com
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