Na madrugada de 6 de agosto próximo (horário de Brasília), o jipe
Curiosity, parte da missão Mars Science Laboratory, deverá iniciar seus
deslocamentos exploratórios na superfície de Marte, o planeta mais próximo da
Terra e o mais semelhante, ainda que haja profundas diferenças entre esses dois
mundos.
A missão, lançada em
fins de novembro passado, está prevista para durar dois anos terrestres, ou
quase um ano marciano (687 dias da Terra), para buscar vida no passado ou
presente, em Marte.
Missões anteriores e
observações feitas por orbitadores (orbiters) sugerem que Marte teve abundantes
estoques de água no passado (ambiente propício à vida como conhecemos) e ainda
pode abrigar remanescentes hídricos infiltrados no solo.
A missão marciana mais
sofisticada em busca de vida, as gêmeas Viking, dos anos 70, deixaram dúvidas
que ainda hoje dividem cientistas na área da exobiologia, o estudo da vida fora
da Terra.
Pesquisas
realizadas a bordo das Viking deveriam confirmar ou negar a presença de
microrganismos na superfície marciana durante castigada pela radiação
ultravioleta do Sol, em função da atmosfera rarefeita do planeta.
Esses resultados, no
entanto, longe de esclarecer as dúvidas fizeram com que elas fossem ampliadas
porque os resultados obtidos permitem as duas interpretações.
O Curiosity tem
padrões inéditos em termos de exploração planetária.
O jipe-robo pesa 900
kg (na Terra) e exibe 3,4 m de comprimento, 2,9 m de largura e outros 2,3 de
altura, o que significa que supera o porte de boa parte dos veículos
convencionalmente utilizados no trânsito intenso das metrópoles do
planeta.
O porte do veículo
robô fez com que a missão que o transporta tenha sido a maior até agora lançado
na superfície de outro planeta do Sistema Solar.
O Curiosity leva a
bordo equipamentos como um cromatógrafo de gás/espectrômetro de massa capaz de
detectar compostos orgânicos (à base de carbono, o elemento em que se baseia a
vida como a conhecemos) tanto de origem biológica quanto não
biológica.
Uma das vantagens do
Curiosity em relação às Vikings é que, ao contrário das gêmeas do passado, ele é
móvel e deverá explorar todo o terreno em torno de seu local de
pouso.
Levando em conta o
objetivo da missão e o fato do Curiosity ser móvel não será surpresa alguma se,
ainda este ano, os jornais de todo o mundo estamparem em manchetes de primeira
página que a vida também se manifesta em outros pontos do Universo, além da
Terra.
Evidentemente que
não se trata de vida como se imaginava no século 19, ou mesmo algum tempo
depois, quando se considerou que Marte poderia abrigar vida
inteligente.
Vida, em termos do
que começará a ser buscado pelo Curiosity são estruturas elementares, caso de
bactérias e ou, em geral, estruturas extremófilas.
Extremófilos são
organismos que sobrevivem ou até mesmo demandam condições tão extremas para
sobreviver que inviabilizariam a presença da maioria das formas de vida
conhecidas.
Geysers, fontes de
água quente e vapor d’água, e ambientes com elevada atividade radioativa estão
entre os meios em que extremófilos sobrevivem em aparente contradição com
ambientes considerados amenos para a vida.
Assim, ainda que a
detecção de formas de vida primitiva no planeta vizinho não seja o que se pode
chamar de uma “surpresa” do ponto de vista científico, será a primeira vez que
essa condição estará demonstrada em outro mundo além da Terra e isso trará
inevitável impacto psicológico, entre outros.
Vida é um processo
que continua sem definição precisa, a exemplo do que demonstrou ainda em 1944,
no livro O que é vida?o extraordinário físico e premio Nobel austríaco Erwin
Schrödinger (1887-1961).
Com a busca que o Curiosity fará
pelas areias vermelhas de Marte, no entanto, a chance de que a vida seja
localizada também na superfície de Marte poderá, sem maiores surpresas, (ainda
que a confirmação da descoberta possa ser explorada de maneira sensacionalista)
poderá preceder esse problema de natureza epistemológica.
Com a provável
confirmação de vida em Marte, mesmo sob a forma mais elementar, ficará ainda
mais intensa a pergunta que faremos às estrelas se seríamos, de fato, a única
inteligência da Galáxia ou eventualmente de todo o Universo.
Scientific American.com
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