domingo, 24 de junho de 2012

O que Marte pode revelar

Na madrugada de 6 de agosto próximo (horário de Brasília), o jipe Curiosity, parte da missão Mars Science Laboratory, deverá iniciar seus deslocamentos exploratórios na superfície de Marte, o planeta mais próximo da Terra e o mais semelhante, ainda que haja profundas diferenças entre esses dois mundos.
A missão, lançada em fins de novembro passado, está prevista para durar dois anos terrestres, ou quase um ano marciano (687 dias da Terra), para buscar vida no passado ou presente, em Marte.
Missões anteriores e observações feitas por orbitadores (orbiters) sugerem que Marte teve abundantes estoques de água no passado (ambiente propício à vida como conhecemos) e ainda pode abrigar remanescentes hídricos infiltrados no solo.
A missão marciana mais sofisticada em busca de vida, as gêmeas Viking, dos anos 70, deixaram dúvidas que ainda hoje dividem cientistas na área da exobiologia, o estudo da vida fora da Terra.
Pesquisas realizadas a bordo das Viking deveriam confirmar ou negar a presença de microrganismos na superfície marciana durante castigada pela radiação ultravioleta do Sol, em função da atmosfera rarefeita do planeta.
Esses resultados, no entanto, longe de esclarecer as dúvidas fizeram com que elas fossem ampliadas porque os resultados obtidos permitem as duas interpretações.
O Curiosity tem padrões inéditos em termos de exploração planetária.
O  jipe-robo pesa 900 kg (na Terra) e exibe 3,4 m de comprimento, 2,9 m de largura e outros 2,3 de altura, o que significa que supera o porte de boa parte dos veículos convencionalmente utilizados no trânsito intenso das metrópoles do planeta.
O porte do veículo robô fez com que a missão que o transporta tenha sido a maior até agora lançado na superfície de outro planeta do Sistema Solar.
O Curiosity leva a bordo equipamentos como um cromatógrafo de gás/espectrômetro de massa capaz de detectar compostos orgânicos (à base de carbono, o elemento em que se baseia a vida como a conhecemos) tanto de origem biológica quanto não biológica.
Uma das vantagens do Curiosity em relação às Vikings é que, ao contrário das gêmeas do passado, ele é móvel e deverá explorar todo o terreno em torno de seu local de pouso.
Levando em conta o objetivo da missão e o fato do Curiosity ser móvel não será surpresa alguma se, ainda este ano, os jornais de todo o mundo estamparem em manchetes de primeira página que a vida também se manifesta em outros pontos do Universo, além da Terra.
Evidentemente que não se trata de vida como se imaginava no século 19, ou mesmo algum tempo depois, quando se considerou que Marte poderia abrigar vida inteligente.
Vida, em termos do que começará a ser buscado pelo Curiosity são estruturas elementares, caso de bactérias e ou, em geral, estruturas extremófilas.
Extremófilos são organismos que sobrevivem ou até mesmo demandam condições tão extremas para sobreviver que inviabilizariam a presença da maioria das formas de vida conhecidas.
Geysers, fontes de água quente e vapor d’água, e ambientes com elevada atividade radioativa estão entre os meios em que extremófilos sobrevivem em aparente contradição com ambientes considerados amenos para a vida.
Assim, ainda que a detecção de formas de vida primitiva no planeta vizinho não seja o que se pode chamar de uma “surpresa” do ponto de vista científico, será a primeira vez que essa condição estará demonstrada em outro mundo além da Terra e isso trará inevitável impacto psicológico, entre outros.
Vida é um processo que continua sem definição precisa, a exemplo do que demonstrou ainda em 1944, no livro O que é vida?o extraordinário físico e premio Nobel austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961).
Com a busca que o Curiosity fará pelas areias vermelhas de Marte, no entanto, a chance de que a vida seja localizada também na superfície de Marte poderá, sem maiores surpresas, (ainda que a confirmação da descoberta possa ser explorada de maneira sensacionalista) poderá preceder esse problema de natureza epistemológica.
Com a provável confirmação de vida em Marte, mesmo sob a forma mais elementar, ficará ainda mais intensa a pergunta que faremos às estrelas se seríamos, de fato, a única inteligência da Galáxia ou eventualmente de todo o Universo.
Scientific American.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário