O pulmão do mundo está no azul dos mares, e não no verde das florestas. Os oceanos provêm boa parte do oxigênio que respiramos e absorvem o excesso de gás carbônico que lançamos na atmosfera. Eles controlam o clima e a água deste planeta chamado Terra. Estão entre os grandes temas da Rio+20 e um dos poucos em que há otimismo para a chance de avanços concretos. Há mais seres vivos no mar do que estrelas no Universo. Não é força de expressão. Os oceanos são hoje a grande fronteira da biodiversidade, do clima e dos recursos minerais. Só 5% dos oceanos já foram observados pelo ser humano, mas o que se sabe é espantoso. São as minúsculas plantas do fitoplâncton que produzem mais de 50% de todo o oxigênio da Terra, como resultado de sua fotossíntese. No mesmo processo, elas absorvem entre 25% e 30% de todo o CO2 emitido pelo homem.
— Mesmo que você nunca tenha a chance de ver os mares, eles virão até você a cada vez que respirar, em cada gota d'água que beber, em cada alimento que comer. Cada pessoa, cada ser vivo, é íntima e profundamente dependente da existência do mar — disse recentemente em palestra a bióloga americana Sylvia Earle, hoje o mais importante nome da pesquisa e da defesa dos oceanos em todo o mundo e uma das principais conferencistas da Rio+20.
— Mesmo que você nunca tenha a chance de ver os mares, eles virão até você a cada vez que respirar, em cada gota d'água que beber, em cada alimento que comer. Cada pessoa, cada ser vivo, é íntima e profundamente dependente da existência do mar — disse recentemente em palestra a bióloga americana Sylvia Earle, hoje o mais importante nome da pesquisa e da defesa dos oceanos em todo o mundo e uma das principais conferencistas da Rio+20.
Os oceanos contêm 97% da água da Terra e 97% da biosfera. A vida fervilha da linha d'água às fossas hidrotermais das profundezas. E mesmo em fontes frias, onde micro-organismos sobrevivem a partir da quimiossíntese, um processo que, na ausência de luz, gera energia a partir de minerais. De fato, a maior parte dos oceanos está mergulhada na escuridão. O mar profundo começa a cerca de 300 metros abaixo da superfície, limite para o mergulho do ser humano. Mas a luz do Sol não chega a mais do que 200 metros de profundidade. Ainda assim, há vida, como peixes transparentes, lulas do tamanho de barcos e invertebrados de aparência extraterrestre.
Está nos mares também a oportunidade das riquezas do pré-sal e de minérios, como o cobalto, importante para indústria de eletrônicos.
Os mares absorveram ainda 80% do calor adicionado pela ação humana nos últimos 200 anos e governam a química planetária. A água dos mares que evapora para a atmosfera retorna à superfície como chuva e neve, num ciclo de restauração de rios, lagos e aquíferos. Sem os oceanos salgados não há água doce na Terra. Sem os oceanos, nem a Humanidade nem qualquer outra forma de vida existiria. Menos de 1% da vida dos mares, porém, é conhecido, diz o coordenador da Campanha Oceanos da ONU, André Abreu, que representa a ONG de estudo dos mares Fundação Tara Expeditions.
Nas últimas décadas do século XX e no início deste século, com o avanço científico, descobriu-se mais sobre os mares do que em toda a História da Humanidade. Aprendemos que dependemos deles para continuar a existir e descobrimos que ainda sabemos pouco. No mesmo período, as ações humanas provocaram mais destruição nos oceanos do que em toda a História precedente. Porém, ainda assim, André Abreu está otimista em relação às chances de sucesso das negociações sobre acordo e proteção dos mares na Rio+20.
— Se há uma área em que podemos obter progressos significativos é a proteção dos mares — frisa Abreu, que acompanha as negociações preparatórias para a Rio+20.
Mas os especialistas alertam que é preciso agir logo. O sistema dos oceanos começa a falhar. Por toda a nossa História, nos costumamos a acreditar que o azul do mar era infinito. Os mares seriam tão vastos que jamais sofreriam qualquer impacto. Mas hoje 90% das espécies de peixes de valor comercial estão superexploradas. Há mais de 400 zonas mortas em áreas costeiras no mundo. O número de zonas mortas cresce em função da alteração da química oceânica decorrente de poluição e mudanças no clima.
Os mares estão em processo de acidificação devido ao acúmulo do CO2 absorvido da atmosfera. A acidificação é a maior ameaça, pois afeta do fitoplâncton aos moluscos. Todas as formas de vida marinha sofrerão as consequências.
— O futuro que queremos, slogan da Rio+20, depende dos oceanos. Mas confiamos que acordos para regular o transporte oceânico e a criação de novas áreas de proteção serão ser fechados — frisa Abreu.
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