Enquanto o Brasil debate como lidar com sua mata nativa, algumas nações mostram como conciliar o progresso econômico com a preservação.
O futuro das florestas brasileiras está em jogo no Congresso Nacional. Os deputados federais debatem uma das mais ousadas mudanças no conjunto de leis que regulam o uso de nossas matas, o chamado Código Florestal. A legislação atual, criada em 1965, recebeu 16 mil emendas ou medidas provisórias, por vezes confusas e contraditórias. Elas complicam a produção agrícola e também não garantem proteção ideal aos recursos naturais. Na semana passada, a proposta de reforma do código, apresentada pelo relator, passou por negociações, mas o texto final não agradou nem os ruralistas nem os ambientalistas e a votação foi adiada.
De um lado, os produtores rurais querem mais flexibilidade nas leis para ampliar a produção e consolidar áreas já desmatadas. Por outro, pesquisadores e conservacionistas defendem medidas de proteção florestal para manter a biodiversidade, evitar a erosão do solo, preservar mananciais e alimentar o ciclo de chuvas. Por trás do debate, o que está em jogo é o modo como o Brasil vê a vocação de suas florestas. Mas um exame da estratégia adotada por alguns países ricos mostra como eles conseguiram conciliar o desenvolvimento humanos e econômico com a preservação. O que esses países ensinam:
Canadá - O Canadá concentra 10% da área florestal do planeta. Quase metade de seu território é coberta por florestas. Os canadenses aprenderam a tirar dinheiro das árvores. A extração de madeira, que não pode ultrapassar 1% da área florestal do país, rende U$ 23 bilhões por ano. Por lei, toda árvore que for cortada deve ser substituída por outra igual. No ano passado, as empresas madeireiras assinaram com ONGs ambientalistas o maior acordo de proteção ambiental do mundo, que garantiu a preservação de 291.000 quilômetros quadrados.
Estados Unidos - O país foi um dos primeiros a perceber que as florestas eram um tesouro nacional. O presidente Theodore Roosevelt, que governou de 1901 a 1909, criou 150 áreas de conservação para florestas, 51 reservas federais para pássaros e cinco parques nacionais. Isso numa época em que outros países nem pensavam em preservação. Os EUA desmataram apenas 23% de suas florestas nativas até o início do século XX. Desde então, a vegetação vem sendo conservada. O Brasil, em comparação, devastou 92% da Mata Atlântica. Os americanos têm uma ligação cultural com suas florestas. Estudantes visitam áreas naturais para entender o ciclo da vida. Cidades médias cultivam cinturões verdes para manutenção de mananciais e os parques nacionais estão entre as principais atrações turísticas e áreas de lazer.
Nova Zelândia - A Nova Zelândia mostra como grupos com interesses distintos sobre o uso da terra podem chegar a um acordo. "O país é uma ilha com plantações, criações de carneiros, florestas nativas, plantio florestal e população indígena. Todos competindo por espaço", afirma o consultor do Ministério do Meio Ambiente. Em 1991, após longas negociações, os setores concordaram com um código florestal. Ele estabeleceu cotas para pecuária e agricultura. Também prevê que a produção de madeira só vem de florestas plantadas. E que é preciso repor as árvores cortadas. Uma associação sem fins lucrativos, financiada pelas madeireiras, fiscaliza sua conduta ambiental.
Japão - Há 300 anos, o país sofria desmatamento acelerado. As florestas nativas minguavam graças à extração da madeira para construção, navegação e aquecimento. Em 1670, a população do país atingia os 30 milhões, e não só a madeira das florestas nativas chegava ao fim. Até que o imperador Higashiyama resolveu adotar medidas drásticas de preservação. O governo passou a pesquisar e ensinar métodos de reflorestamento. Os habitantes de vilas rurais adotaram práticas como a manutenção de mata entre as plantações e as florestas. Uma das regras de ouro do país é conservar a cobertura vegetal nas montanhas, para evitar erosão, e ocupar intensamente o fundo dos vales. Hoje, apesar de abrigar 128 milhões de pessoas, o Japão tem 67% de sua área coberta por florestas.
Fonte: R. Época
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