sábado, 12 de dezembro de 2015

O mundo da economia sem carbono

planeta (Foto: Thinkstock)
Um aquecimento limitado a +2ºC, investimentos para acelerar a transição para um mundo sem carbono: o acordo universal alcançado neste sábado em Paris pode mudar por completo a face da economia global.
Em 2050, "teremos uma economia mais limpa e com uma dependência menos forte das energias fósseis, que criará novos empregos em novos setores", avalia Edward Cameron, da coalizão We Mean Business.
E segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a transição ecológica poderia criar até 60 milhões de empregos de hoje a 2030.
A energia, sem distinção de como é utilizada, é responsável por dois terços das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Para respeitar a meta dos 2 ºC, este setor deverá apostar nas energias renováveis.
A Agência Internacional da Energia (AIE) calculou que para isso será necessário alcançar 50% de energias renováveis e pelo menos 36 bilhões de dólares de investimentos adicionais de hoje a 2050.
Seu desenvolvimento permitirá além disso acelerar o acesso a eletricidade nos países em desenvolvimento.
O potencial de empregos é importante: 24 milhões em 2030, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis.
Sem dúvidas, dentro de 20 ou 30 anos, as energias fósseis - carbono, gás e petróleo - não terão desaparecido. Segundo a AIE, representarão 75% da matriz energética mundial até 2040.
Os países petroleiros deverão acelerar a diversificação de suas economias, que hoje dependem quase exclusivamente dos hidrocarbonetos.
Para Nicolas Hulot, enviado especial do presidente francês François Hollande para a proteção do planeta, "o esforço é mais estrutural que técnico, já que não estamos acostumados a dar de ombros a um recurso que está ali ao alcance das mãos".
De acordo com os profissionais, até 2030 o tráfego de passageiros vai dobrar, o frete aéreo vai triplicar e o marítimo de contenedores será multiplicada por quatro.
O acordo de Paris protege o transporte aéreo e marítimo, uma aberração na visão das ONGs. Para descarbonizar o setor, é preciso substituir, segundo a AIE, pelo menos 10% (em comparação com 3% atualmente) da gasolina obtida a partir de combustíveis fósseis por biocombustíveis (bioetanol, biogás, etc.) produzidos a partir de biomassa, na medida do possível não proveniente de culturas alimentares.
Ele também deve implantar um enorme parque automotor elétrico.
As projeções antecipam um enorme desenvolvimento do transporte público para limitar a expansão dos carros particulares.
É necessário tomar medidas "desde já", insiste Franck Lecocq, engenheiro do Cired, porque trata-se de um setor "em que a vida útil dos equipamentos é muito longa".
Cerca de 3 bilhões de dólares seriam necessário de hoje a 2035, segundo a Climate Policy Initiative.

Para reduzir o impacto sobre o clima, os especialistas defendem a introdução de tarifas para penalizar a poluição de carbono, mas o acordo de Paris não faz menção a isso.
"Parte das mudanças resultarão na melhoria da eficiência, ser capaz de fazer o mesmo com menos", aponta Franck Lecocq.
Muitas empresas já estão tentando reduzir seu consumo de energia e de matérias-primas, reciclam seus resíduos, se voltam para o eco-design de seus produtos. Mas será preciso fazer mais.
Algumas atividades, especialmente aquelas que consomem mais energia (aço, alumínio, petroquímica) deverão ser transformadas completamente.
"A médio prazo, é possível imaginar que atividades que existem hoje se reduzam consideravelmente", alertou Lecocq.
"Há setores econômicos, regiões, que vão ser afetadas embora haja compensações", agregou, insistindo na necessidade de "dar perspectivas a estes setores e as pessoas que empregam".

As emissões de gases de efeito estufa, especialmente o gado, são suscetíveis de aumentar, pois o consumo de carne e produtos lácteos vai explodir.
Para reduzir o aquecimento global, é necessário proteger as florestas e restaurar as terras degradadas pela agricultura intensiva e pelo desmatamento maciço.
Embora limitado, o aquecimento atual já teve um impacto sobre a produtividade e os rendimentos agrícolas e os preços. O que está em jogo é o acesso de todos aos alimentos.
"A tecnologia desempenha um papel", explica Edward Cameron, especialmente "sobre a maneira de administrar de maneira eficaz os recursos de água".
No ritmo atual, as emissões de CO2 do setor poderiam aumentar em 70% até 2050. De acordo com especialistas que falaram na COP21, reduzir o consumo de energia no setor da construção permitirá reduções substanciais nas emissões.
São necessários 220 bilhões de dólares em investimentos de hoje a 2020 - ou seja, 50% a mais que em 2014.
Haverá então edifícios de nova geração, melhor isolados, construídos com novos materiais, que produzirão sua própria energia com painéis solares e terão calefação graças à fermentação de nossos resíduos. A adaptação dos edifícios atuais será complicada, contudo.
Galileu.com

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